Título: A via dos memoriais ao ódio
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/02/2005, Internacional, p. A9

Caminhei pelo calçadão da orla em Tel Aviv quando estive na cidade em dezembro. Meu roteiro era o mesmo, sair do hotel, passar em frente ao memorial do Dolphinarium - boate onde um terrorista suicida matou 23 alunos que comemoravam o fim do ano letivo em 2001 - e seguir até o Mike's Place, agradável bar ao lado da embaixada americana com música ao vivo, onde se pode ouvir de música típica escocesa a blues, depois de passar pela revista na porta. O lugar foi igualmente detonado, em 2003, por outro suicida, com passaporte britânico.

A linha que une os dois locais é discreta. No caso da boate, um pequeno memorial no calçadão traz o nome das vítimas do ódio e da intilerância. No chão, ficam pequenas velas que pessoas, como eu, acendem em respeito aos que tombaram nesse conflito. Já no bar, um cartaz discreto escrito à mão, no alto de um armário, é o único sinal visível da violência: pede doações para as famílias das vítimas do atentado, que ali também foram muitas.

A explosão na porta da boate The Stage (numa rua transversal junto à orla) vai acrescentar mais um memorial e velas nesse trajeto. Em nome delas, porém, israelenses e palestinos não devem deixar que o tênue diálogo que retomaram sucumba.