O globo, n. 31973, 19/02/2021. Sociedade, p. 14

 

Amazonas interrompe transferência de pacientes

Adriana Mendes

19/02/2021

 

 

Último voo foi na semana passada; órgãos federais e do Rio cobraram explicações sobre o planejamento das remoções

No início de 2021, com o sistema de saúde de Manaus em colapso e diante do surgimento de variante do coronavírus, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, apontou a transferência de pacientes com Covid-19 para outros estados como “a única solução”. De 15 de janeiro, quando começaram as remoções pela Força Aérea Brasileira, até 10 de fevereiro, data do último voo, foram transferidos 542 pacientes — Pazuello anunciou que seriam 1.500. Há uma semana não é feito nenhum translado interestadual.

Segundo o governo do Amazonas, as remoções não estão descartadas, porém há uma redução gradativa na demanda. Em janeiro houve um pico de 258 hospitalizações em um único dia; anteontem, foram 61.

O Secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, disse que houve uma ampliação na capacidade de atendimento com a abertura de 200 novos leitos. As remoções interestaduais obedecem protocolos rígidos de segurança e, por isso, são indicadas para pacientes com quadro leve e moderado.

— Hoje o número de pacientes com perfil moderado diminuiu, dificultando o preenchimento dos voos. Desde o dia 10 não fazemos voos pra fora. Nesse período estamos priorizando a vinda de pacientes do interior para  Manaus —afirmou Campêlo.

Indagado se a suspensão temporária de pacientes para outros estados está relacionada à transmissão da variante de Manaus, a linhagem P1 que se espalha pelo país, o secretário negou:

— Nada a ver com a variante. A regra é: se tem leito, vai pra Manaus; não tem leito, vai para outro estado.

De acordo com o secretário, no momento há uma tendência à estabilidade de casos e óbitos, porém em índices ainda elevados. Ele ressalta que é importante a manutenção das medidas de prevenção. O Amazonas registrou ontem 1.808 novos casos de Covid-19 e 81 mortes, chegando a 299.495 o total de casos confirmados e 10.181 mortes.

Após vistorias em hospitais federais do Rio, a Defensoria Pública do Rio (DPU-RJ), a Defensoria Pública da União (DPU), o Ministério Público Estadual (MP-RJ) e o Ministério Público Federal (MPF) cobraram na última sexta-feira explicações do Ministério da Saúde sobre a transferência de pacientes. Um relatório enumera críticas à falta de planejamento especialmente a falta de interlocução com representantes do governo federal.

O caso mais emblemático foi a morte de um infectado vindo de Manaus menos de 24 horas após chegar ao Rio. O Ministério da Saúde, em diversas ocasiões, afirmou que apenas pacientes com estado moderado de saúde seriam encaminhados à cidade. Foi constatado também que um paciente de Manaus ficou em um leito comum no Hospital dos Servidores. Dos 542 pacientes transferidos, 335 receberam alta médica e 63 morreram.