Título: Em 2050, um país de bengalas
Autor: Jardim, Idelina
Fonte: Jornal do Brasil, 28/11/2008, País, p. A2

Envelhecimento da população e queda do número de filhos fazem IBGE rever para baixo previsão de habitantes. Mas expectativa de vida vai crescer

Idelina Jardim

A população brasileira está en- velhecendo em ritmo acelerado, tem menos filhos e vai parar de crescer em 30 anos. Por outro lado, a expectativa de vida prosseguirá em expansão. A estimativa foi anunciada ontem, no estudo Pro jeção da população do Brasil por sexo e idade para o período 1980 a 2050, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto no período 1950-1960 a taxa de crescimento da população era de 3,04% ao ano, este ano não ultrapassou 1,05%.

O levantamento mostra que em 2050 o país terá 215,3 milhões de habitantes ­ uma redução acentuada comparada aos 259,7 milhões projetados na última revisão periódica da população, feita em 2004. Segundo o estudo, até 2039, o país apresentará um potencial de crescimento populacional, quando a expectativa é de que a população atinja o chamado "crescimento zero".

A partir daí, serão registradas taxas de crescimento negativas, ou seja, queda no número da população, de acordo com a demógrafa da gerência de estudos e análises da dinâmica demográfica do IBGE, Leila Ervatti. ­ Quando a taxa de crescimento chega a zero, a população é constante e, enquanto for positiva, continua crescendo. Mas, a partir do momento em que a taxa é menos que zero, começa a decrescer e fica negativa ­ explicou Leila. A queda significativa dos níveis de fecundidade ao longo dos anos fez com que a taxa de crescimento da população caísse.

A diferença dessa projeção está basicamente na relação com a fecundidade ­ haverá uma queda drástica, o que conseqüentemente, causará a estagnação do crescimento. ­ Para se ter uma garantia de reposição da população são necessários em média 2,1 filhos por mulher. Como as pessoas estão nascendo no regime de fecundidade baixa, chega-se a um ponto em que ela começa a declinar ­ explicou a demógrafa, que também é técnica da pesquisa.

Envelhecimento acelerado

O estudo mostra também que, enquanto o índice de natalidade diminui, o brasileiro vive mais ­ portanto, o número de idosos vai crescer. Segundo o estudo do IBGE, "os avanços da medicina e as melhorias nas condições gerais de vida da população repercutem no sentido de elevar a média de vida do brasileiro (expectativa de vida ao nascer) de 45,5 anos de idade, em 1940, para 72,7 anos, este ano, ou seja, mais 27,2 anos de vida".

A projeção mostra também que o Brasil continuará galgando anos na vida média de sua população, alcançando, em 2050, o patamar de 81,29 anos, mesmo nível atual da Islândia (81,80), Hong Kong, China (82,20) e Japão (82,60). A média de vida este ano para mulheres chega a 76,6 anos e para os homens 69 anos, uma diferença de 7,6 anos. O levantamento do IBGE mostra ainda que este ano o Brasil ocupa a quinta posição entre os países mais populosos, mas, de acordo com as projeções da ONU, o país passará para a oitava posição em 2050.

A conclusão do levantamento é que o país caminha "velozmente em direção a um perfil demográfico cada vez mais envelhecido". Este ano, para cada grupo de 100 crianças com menos de 14 anos, existem 24,7 idosos acima dos 65 anos. Em 2050, o número muda e para cada 100 crianças abaixo dos 14 anos, existirão 172,7 idosos. A pesquisa mostra outro dado: a proporção de homens para mulheres tende a cair nas próximas décadas. Para 2050, a expectativa é de que haja 7 milhões de mulheres a mais do que homens. Em 2000, esse número era de 2,5 milhões.

Ainda como reflexo do envelhecimento, a razão de dependência total, que mede o peso da população em idades potencialmente inativas sobre a população em idades potencialmente ativas, diminuirá até aproximadamente 2022, em decorrência das reduções na razão de dependência das crianças. O estudo de agora é uma revisão atualizada sobre o levantamento anterior divulgado em 2004 pelo IBGE.

Foi uma projeção da população do Brasil, por sexo e idade, para o período 1980-2050. O atual estudo incorpora nova análise da trajetória recente e futura da fecundidade, com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2002 a 2006 e de registros civis, segundo a técnica da pesquisa, Leila Ervatti.