Título: Denúncia afeta ações da Petrobras
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/11/2008, Economia, p. A17

Ministro Lobão tenta defender empresa, mas causa desconforto ao admitir "problemas"

Um alerta soou no mercado em relação à Petrobras ontem, a partir da denúncia de que a empresa recorreu a um empréstimo da Caixa Econômica Federal, de R$ 2 bilhões, em outubro, para capital de giro. A informação, que veio à tona pelas mãos da oposição ao governo, causou desconforto curiosamente depois que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que dificuldades financeiras momentâneas levaram a empresa ao empréstimo. O ministro também revelou que um fundo dos Emirados Árabes ofereceu financiamento à estatal para a exploração de petróleo na região do pré-sal. Lobão ressalvou, no entanto, que ainda não foi definido se a estatal aceitará o empréstimo nem o montante em questão.

¿ Se for conveniente à Petrobras e ao Brasil, nós receberemos sem nenhum constrangimento ¿ afirmou o ministro. ¿ A Petrobras está como sempre esteve. Teve dificuldades momentâneas em razão de impostos imprevistos, mas é uma situação que se estabelece no passo seguinte.

Lobão evitou responder se o fato de o empréstimo ter sido feito por um banco público demonstra que a empresa não consegue financiamentos com bancos privados.

Ações em baixa

Ontem, as ações da estatal permaneceram no terreno negativo durante todo o dia, caindo mais que o índice da bolsa, com a colaboração também da queda do petróleo. Os papéis com direito a voto da empresa (ON) fecharam em baixa de 2,47%, cotados a R$ 23,72. Já os preferenciais (PN) encerraram o pregão em baixa de 2,77%, a R$ 19,95. Analistas observaram que, apesar do empréstimo ser considerado normal, gerou incerteza o fato de a empresa ter utilizado os recursos para capital de giro.

¿ Se a Petrobras não trabalhar bem vai ter novamente problema de caixa, ainda mais com o petróleo ao preço que está ¿ avaliou o analista do Banco do Brasil Investimentos, Nelson Matos, ao manifestar preocupação com o plano de negócios da companhia, previsto para ser divulgado em dezembro. Matos prevê que as refinarias anunciadas deverão ser adiadas.

¿ O plano anterior (de US$ 112,4 bilhões) previa mais de 80% de capital próprio para os investimentos e o restante no mercado. Ela vai ter um desafio aí ¿ observou Matos. ¿ O jeito vai ser reduzir investimentos, porque hoje não existe mais janelas de empréstimo.

A falta de confirmação ou de detalhes sobre o empréstimo desagradou especialistas que acompanham a empresa, muito mais do que o empréstimo propriamente dito, na avaliação do analista do Unibanco Vladimir Pinto.

¿ É mais uma discussão política do que efetivamente um problema sério ¿ acrescentou, sobre a polêmica que se criou em torno da operação com a CEF, a partir de uma denúncia feita pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) na última quarta-feira.

Para o analista Adriano Pires, o empréstimo mostrou que a Petrobras tem problemas de caixa e que não estava preparada para um ambiente de petróleo a US$ 50 o barril.

Em defesa da Petrobras, além do ministro Lobão, a ministra Dilma Rousseff disse no Rio que a empresa não está descapitalizada. A ministra classificou a operação de empréstimo como "absolutamente normal".