Título: Equador poupa Embraer de litígio
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/11/2008, Economia, p. A18

Presidente volta a atacar construtora Odebrecht, a quem acusa de "corrupta e corruptora"

Depois de o presidente do Equador, Rafael Correa, ter lançado uma série de acusações contra empresas e operações de financiamento com bancos brasileiros, o vice-ministro da Defesa do Equador, Miguel Carvajal, entrou no debate com tom apaziguador. Ontem, além de afirmar que a compra de 24 aviões Super Tucano fabricados no Brasil avança normalmente, Carvajal explicou que a operação não está vinculada ao problema entre o Estado equatoriano e a empreiteira brasileira Norberto Odebrecht. A construtora foi expulsa do país por Correa depois da paralisação, por defeito técnico, da hidrelétrica de San Francisco, importante para o suprimento energético do Equador.

O problema representou apenas o primeiro de uma série de problemas com o Brasil. Além de acusar a Odebrecht de "corrupta e corruptora", o presidente equatoriano também reclamou dos juros de créditos do BNDES usados na construção de uma hidrelétrica no país e ameaçou procurar outro fornecedor para os aviões Super Tucano ¿ de treinamento militar ¿ já emcomendados à Embraer.

Tudo certo

O vice-ministro da Defesa disse que um primeiro pagamento pelos aviões já foi efetuado e que uma segunda parcela será paga em setembro do ano que vem, quando chegarem ao país as duas primeiras aeronaves fabricadas pela Embraer.

Consultado sobre a possibilidade de a aquisição dos Supertucanos enfrentar barreiras ou não se concretizar, Carvajal disse que, em questões de Estado, sempre há "planos B, planos C, mas que, por enquanto, não há nenhum problema" na negociação. Segundo o vice-ministro, a compra desses aviões é feita pelo Estado equatoriano, sem solicitação de crédito a nenhum outro país. E descartou a possibilidade de haver qualquer tipo de influência do caso Odebrecht sobre a operação.

Fora do tom

A intervenção do vice-ministro aparentemente tenta neutralizar o tom ríspido usado por Rafael Correa um dia antes, no aeroporto, a seguir para Caracas, onde participa da Cúpula da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) para buscar soluções à crise financeira internacional.

Na ocasião, Correa, classificou como "desproporcional e fora de lugar" a decisão do Brasil de chamar para consultas seu embaixador em Quito. A convocação do diplomata brasileiro a Brasília decorreu do fato de o governo de Quito, sem comunicação prévia, ter encaminhado a questão para julgamento de uma corte internacional.

Anteontem, Correa acusou mais uma vez a Construtora Odebrecht de corrupção, indicando-a como responsável pela crise diplomática entre os dois países. A empresa, segundo declarações anteriores de Correa, teria praticado suborno de funcionários equatorianos para driblar os controles sobre a obra da hidrelétrica, que acabou paralisada por problema de construção.

A assessoria de imprensa da construtora divulgou nota dizendo que "a empresa repudia as declarações", pois, ao longo de 21 anos que operou no Equador, nunca foi acusada de corrupção e que o governo atual faz alegações sem provas. Após reparar a hidrelétrica, a empresa foi forçada a sair do país, deixando quatro obras para trás e contratos que somavam US$ 670 milhões.

¿ A culpa do que está acontecendo é da Odebrecht, empresa corrupta e corruptora que causou danos ao país, e de certos contratos de empréstimo que têm sido um verdadeiro assalto, como esse para financiar a hidrelétrica San Francisco ¿ disse Correa em sua entrevista.

Em relação ao contrato, a principal queixa do presidente equatoriano é a cobrança de juros sobre juros.