Título: Antecipem a posse
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2008, Tema do Dia, p. A2
THE NEW YORK TIMES
A crise financeira está longe de ter um fim. Ela está apenas começando. Se dependesse de mim, convocaríamos uma sessão extraordinária no Congresso, reformaríamos a Constituição e adiantaríamos a data da posse de 20 de janeiro para o Dia de Ação de Graças. Esqueça as festas da posse; nós não podemos pagar por elas. Esqueça as tribunas principais; não precisamos delas. Só precisamos da Suprema Corte e da bíblia, e vamos empossar Barack Obama agora mesmo (por opção) com a mesma pressa com que o fizemos (por necessidade) com Lyndon B. Johnson a bordo da Força Aérea Um.
Infelizmente, levaria muito tempo para que uma maioria de estados aprovasse a emenda. O que podemos fazer agora, segundo o analista político Norman Ornstein, co-autor de The broken branch (A sede falida), é pedir ao presidente Bush para nomear imediatamente Tim Geithner, secretário do Tesouro indicado por Barack Obama, e deixá-lo assumir na semana que vem.
Não se trata de um golpe contra Hank Paulson (atual secretário). É que não podemos nos dar ao luxo de uma transição de dois meses em que os mercados não sabem quem está no controle ou para onde estamos indo. Ao mesmo tempo, o Congresso deveria ficar em sessão permanente para passar qualquer legislação necessária.
Esse é o verdadeiro código vermelho. Assim como um banqueiro me disse: "Nós finalmente encontramos as armas de destruição em massa". Estavam enterradas em nossos próprios quintais, hipotecas subprime e todos os derivativos anexados a elas.
Ainda assim, é óbvio que o presidente Bush não pode providenciar todas as ferramentas para desarmá-las ¿ um programa de incentivo poderoso para melhorar a infra-estrutura e gerar empregos, uma ampla iniciativa no setor de habitação para impedir despejos e estabilizar os preços dos imóveis e, conseqüentemente, títulos de hipotecas, mais capital para saldos bancários e, o mais importante, uma enorme injeção de otimismo e confiança de que podemos e vamos sair da lama com uma nova equipe econômica no comando.
O último aspecto é algo que só o presidente eleito Obama pode injetar. O que mais nos aflige agora é a perda de confiança em nosso sistema financeiro e nossa liderança. No momento, há algo profundamente disfuncional, beirando o escandalosamente irresponsável: a nossa elite se comporta como se nada estivesse acontecendo no momento econômico mais incomum da história.
Parece que eles não entenderam: nosso sistema financeiro está em perigo. De acordo com a sabedoria popular, é bom que um novo presidente comece do zero. O único caminho é subir. Isso é verdade, a menos que o zero não se transforme em números negativos antes de o presidente assumir.