Título: Um vácuo no poder
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2008, Tema do Dia, p. A2
Todos estão falando sobre um novo "New Deal", por motivos óbvios. Em 2008, como em 1932, uma longa era de dominação política republicana chegou ao fim diante de uma crise econômica e financeira que, na cabeça dos eleitores, fez as ideologias de mercado livre do partido republicano perderem crédito e subestimou alegações sobre sua competência. E para aqueles do lado progressivo do espectro político, esses são tempos esperançosos.
Existe, porém, outra comparação mais perturbadora entre 2008 e 1932 ¿ isto é, a emergência de um vácuo no poder no ápice da crise. O interregno de 1932-1933, a longa espera entre as eleições e a transferência do poder, foi desastrosa para a economia dos EUA, pelo menos em partes porque a administração em retirada não tinha nenhuma credibilidade, e a nova administração não tinha autoridade e o abismo ideológico entre os dois lados era muito grande para permitir ações em concerto. E a mesma coisa está acontecendo agora.
É verdade que o interregno será mais curto dessa vez: FDR não foi inaugurado até março; Barack Obama se mudara à Casa Branca no dia 20 de janeiro. Mas as crises se movem mais rapidamente hoje em dia.
Quantas coisas podem dar errado nos dois meses antes de Obama tomar posse? A reposta, infelizmente, é: Muita coisa. Considere como o retrato econômico está muito mais sombrio desde a falência do Lehman Brothers, que ocorreu há pouco mais de um mês. E o passo da deterioração parece estar acelerando. Contudo a política econômica, em vez de responder as ameaças, parece ter saído de férias. Em particular, o pânico retornou aos mercados de crédito, porém nenhum novo plano de resgate está à vista.
Pelo contrário, Henry Paulson, secretário do Tesouro, anunciou que não vai nem retornar ao Congresso para a segunda parte do pacote financeiro de US$ 700 bilhões já aprovado. E ajuda financeira para a cambaleante indústria de automóveis tem sido adiada por desacordos políticos.
Até que ponto devemos nos preocupar com o que parece ser dois meses de política à deriva? No mínimo, os próximos dois meses infligirão graves dores em centenas de milhares de americanos, que perderão seus empregos, suas casas, ou ambos.
O que é realmente desconcertante, porém, é a possibilidade que alguns dos danos causados agora serão irreversíveis. E nada está acontecendo na front política que é remotamente comensurável com a escala da crise econômica. E é aterrorizante pensar quantas coisas ainda podem dar errado antes do dia da Inauguração...