Título: Preconceito ainda cria resistência a tratamento
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2008, País, p. A6

Depressão e preconceito foram apenas algumas das dificuldades encontradas por "Zazá", ativista social, 33 anos, infectada há 11 anos pelo vírus HIV, que pediu para ser identificada apenas pelo apelido. Ela descobriu que era soropositiva enquanto realizava exames pré-natais. Estava com a mãe quando recebeu a notícia do médico e com a "sentença de morte" nas mãos, a idéia de abortar surgiu instantaneamente. Foi no espiritismo que ela encontrou apoio para desistir da idéia.

¿ Eu já tinha lido o resultado na sala de espera do ginecologista ¿ conta Zazá. ¿ Mas não tive coragem de contar para minha mãe. Então eu implorei que ela entrasse comigo no consultório porque aí ficaria sabendo pelo médico.

No início, apenas o pai e os irmãos de Zazá foram avisados. O pai da criança só soube dois anos depois. E o namoro não resistiu à notícia. Enquanto estava grávida, Zazá não manteve relações com o namorado, mas depois do parto voltou a ter uma vida sexual ativa. E, nem sempre, usava preservativo. O exame de HIV do namorado, no entanto, deu negativo.

¿ Eu não ligava para isso ¿ conta a ativista. ¿ Pensava: se eu vou morrer, ele morre também.

Apesar de ter convênio particular de saúde, ela foi instruída pelo ginecologista a procurar assistência na rede pública de saúde. Na época, não teve discernimento para entender a indicação, mas hoje não tem dúvidas que o médico não queria tratá-la.

Durante toda a gravidez, Zazá fez o tratamento indicado, mas, logo depois do parto, abandonou a medicação e, dois anos depois, começou a ficar doente. A depressão não demorou a chegar.

Desde 2003, Zazá retomou o tratamento. Procurou grupos de apoio para pessoas soropositivas e voltou a ter vida sexual. Agora, sempre com preservativo.

¿ Se não aceitam usar preservativo, pulo fora ¿ disse Zazá. ¿ Não estou preocupada só com o parceiro, mas com a minha saúde também. (L.A.)