Título: Dobra a sobrevida de portadores
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 26/11/2008, País, p. A6

Segundo ministério, contaminação cresce entre homens e mulheres com mais de 50 anos

Luciana Abade

BRASÍLIA

A expectativa de vida das pessoas que vivem com Aids nas regiões Sul e Sudeste dobrou entre 1995 e 2007. Nesse período, o tempo médio de vida pós diagnóstico subiu de 58 meses para mais de 108 meses. A possibilidade de sobrevivência de crianças menores de 13 anos que vivem com Aids também aumentou consideravelmente desde o início da epidemia. Em 1980, as chances de uma criança nessa faixa etária estar viva 60 meses depois de diagnosticada era de 25%, enquanto as diagnosticadas no período de 1999 e 2000 era de 86%. Os dados são de um estudo encomendado pelo Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde. O diagnóstico precoce e o acesso aos medicamentos anti-retrovirais são os principais motivos para o aumento da sobrevida.

Apesar de a maioria dos casos de Aids ainda ser identificado na faixa etária de 25 a 49 anos, o estudo mostra, também, que dobrou a incidência da doença entre pessoas acima dos 50 anos entre 1996 e 2006. Passou dos 7,5 casos por 100 mil habitantes para 15,7. A incidência nessa faixa etária cresceu em todas as regiões do país. E, entre os casos registrados, 63% são homens e 37% são mulheres. Os preconceitos que cercam a vivência da sexualidade de pessoas acima dos 50 anos limitam a dificuldade de abordagem sobre o HIV.

Barreira cultural

¿ Temos quer estar de olho nessa turma ¿ afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. ¿ Existe uma falsa idéia de que pessoas dessa faixa etária não têm vida sexual ativa. Mas 70% delas têm, graças aos medicamentos que tratam da disfunção erétil e prolongam a vida sexual.

Para a professora de Bioética da Universidade de Brasília (UnB) Dirce Guilhem, o uso desse tipo de medicamento leva o homem a testar sua virilidade procurando sexo fora do casamento e, com isso, levando o vírus para dentro de casa.

¿ É preciso considerar, também, que essa é uma geração onde prevenção no sexo era apenas para evitar gravidez ¿ explicou Dirce. ¿ Essa geração ainda acredita que Aids é doença de jovem.

Além desses fatores, a diretora do Programa DST e Aids do ministério, Mariângela Simão, acredita que o fato da decisão de usar o preservativo ainda estar predominantemente nas mãos dos homens tem contribuído para a infecção das pessoas com mais de 50 anos.

De acordo com o novo boletim epidemiológico Aids/DST, existem 630 mil pessoas infectadas com o vírus HIV no Brasil. A média anual de casos entre os anos 2000 e 2006 é de 35.384. Desde 1980, 205 mil pessoas morreram vítimas da doença. A Região Sudeste é a que tem o maior número de infectados, concentrando 60% dos casos registrados nos últimos 28 anos. Em seguida vem o Sul com 18,9% dos casos, seguido do Nordeste, 11,5%, Centro-Oeste, 5,7% e Norte, 3,6%.

A Região Sudeste não apresentou aumento no número dos casos de Aids entre 2000 e 2006, mas a queda é discreta. Foi de 24,4 casos para cada 100 mil habitantes para 22,5 casos. A diminuição poderia ter sido maior se o Estado do Rio de Janeiro não apresentasse uma taxa de incidência tão alta. O Rio apresenta, junto com Mato Grosso e Rio Grande do Sul uma taxa de incidência que é o dobro da nacional. São 12,4 casos para cada grupo de 100 mil habitantes.

Segundo Mariângela, existe uma preocupação com a aumento da Aids no Norte e Nordeste porque elas apresentam uma frágil estrutura de saúde. E a mobilidade das pessoas para as Guianas, onde a epidemia de Aids é generalizada, aumentam as chances de infecção. Além das dificuldades socieconômicas, existem as dificuldades geográficas que interferem no acesso à informação.