Presidente cobra explicações sobre preços de combustíveis, diz que mercado só está interessado em atender interesses de alguns segmentos. Justiça dá 72 horas para mandatário explicar troca no comando da Petrobras

Após indicar um novo presidente da Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro repetiu ontem que não pretende alterar a política de preços, mas afirmou que “tem coisa que tem que ser explicada” sobre os reajustes. Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, indagou se o petróleo “é nosso ou de um pequeno grupo”, em uma referência à frase famosa dita por Getúlio Vargas, que se tornou mote da campanha que resultou na criação da Petrobras. Em 2016, ela foi usada por parlamentares do PT em um debate no Congresso sobre o projeto de lei que desobrigava a Petrobras de atuar em todos os consórcios do pré-sal.

Em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse ontem que as reações à indicação do general Joaquim Silva e Luna para o comando da estatal indicam que parte do mercado apoia uma política que só atendia a “alguns grupos ”.

— Sinal que alguns do mercado financeiro estão muito felizes com apolítica que só tem um viés na Petrobras: atender aos interesses próprios de alguns grupos do Brasil. Nada mais além disso—disse, acrescentando depois: — O petróleo é nosso o ué de um pequeno grupo no Brasil?

O presidente afirmou que quer “números concretos” da empresa, inclusive sobre o salário do presidente, e disse não conseguir entender um reajuste de 15% no diesel com intervalo de duas semanas.

— Tem coisa que tem que ser explicada. Eu não peço, eu exijo transparência de quem é subordinado meu. A Petrobras não é diferente disso aí —afirmou.

A política de preços da Petrobras repassa para o valor cobrado na refinaria a variação nas cotações do dólar e do petróleo, que subiu impulsionado por uma onda de frio nos EUA.

Apesar do pedido de explicações, apolítica de preços da empresa é protegida tanto pelo Conselho de Administração quanto pelo estatuto social da companhia. Uma mudança realizada ainda na gestão de Pedro Parente, no governo do então presidente Michel Temer, prevê que, se a companhia registrar perdas financeiras por interferências políticas, ela precisa ser indenizada no mesmo ano.

A forma como o presidente anunciou a troca no comando da empresa motivou um pedido de explicações da Justiça de Minas Gerais. O juiz da7ªV ara da Justiça Federal da 1ª Região, André Prado de Vasconcelos, determinou que Bolsonaro, a União e a Petrobras expliquem em 72 horas o processo que levou ao anúncio de troca. O pedido de liminar que resultou na decisão da Justiça argumentaque o governo teria desrespeitado a Lei das Estatais.

‘MERCADO É REBANHO’

Bolsonaro voltou a criticar ontem o fato de o presidente da Petrobras trabalharem regime de home office e perguntou a apoiadores se eles sabiam o salário do executivo. Uma pessoa respondeu que seria de R$ 50 mile ele retrucou:

—É mais do que isso por semana. Tem coisa que não está certo. Não quero que ele ganhe R$ 10 mil por mês não. Tem ques e rum apessoa qualificada.Mas não te resse ti pode política salarial lá dentro.

Em 2020, a Petrobras aumentou a previsão de remuneração de seus executivos. Os salários mensais somados aos bônus de cada um dos nove diretores, incluindo o presidente, podem chegara uma média próxima de R$ 400 mil.

A remuneração, porém, é inferior à praticada em outras grandes petroleiras. Em 2019, a americana ExxonMobilpag ou o equivalente aR $7,8 milhões por mês aop residente da companhia. Na Chevron, a remuneração no período ficou na faixa de R$ 11 milhões.

O vice-presidente Hamilton Mourão negou que haja interferência na Petrobras e defendeu um fundo soberano com royalties do petróleo para “amortecer” reajustes. O vice presidente minimizou areação do mercado financeiro: — Isso tudo é especulação. Mercado é rebanho eletrônico.Sai correndo para um lado, daqui a pouco eles voltam correndo de novo. Não vejo que vai prejudicar demais isso.