O globo, n. 31980, 26/02/2021. País, p. 8

 

Bolsonaro autoriza demissão de Wajngarten

Jussara Soares

Gustavo Maia

Daniel Gullino

26/02/2021

 

 

Almirante Flávio Rocha, de perfil mais moderado, é cotado para a Secom. Auxiliar deve ser mantido no governo

O presidente Jair Bolsonaro autorizou a demissão do chefe da Secretaria Especial de Comunicação (Secom), Fabio Wajngarten, após o auxiliar acumular atritos com imprensa, militares e com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao qual é subordinado. Ele deve ser substituído pelo secretário especial de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha. Dada como certa nos bastidores do Palácio do Planalto, a mudança é aguardada para ser publicada nos próximos dias no Diário Oficial da União (DOU).

Segundo integrantes do Executivo, Wajngarten pode ganhar o cargo de assessor especial da Presidência, mas o novo posto ainda não está definido. O secretário está na berlinda há meses principalmente por se mostrar insubordinado a Faria.

No último dia 23, o colunista Merval Pereira revelou que o chefe da Secom teria pressionado a Petrobras a destinar R$ 100 milhões de publicidade para as redes de televisão Record, do bispo Edir Macedo, e SBT, de Silvio Santos.

Segundo auxiliares, Bolsonaro já teria autorizado a demissão de Wajngarten, no fim do ano passado, quando fora informado dos constantes desentendimentos do chefe da Secom com o ministro Faria. Segundo esses interlocutores, o presidente reagiu dizendo que o auxiliar “não sabe respeitar a hierarquia”, lembrando que já era o terceiro ministro com quem o secretário se desentendia.

Antes de Faria, Wajngarten entrou em conflito com o ex-ministro da Secretaria de Governo (Segov), Carlos Alberto dos Santos Cruz, e com o atual chefe da pasta, Luiz Eduardo Ramos, quando a Secom era subordinada ao ministério. Em junho do ano passado, a secretaria foi transferida para o Ministério das Comunicações, recriada para abrigar Faria. À época, Wajngarten apoiou a mudança e a chegada do novo ministro ao governo.

HISTÓRICO DE CONFLITOS

No fim de 2020, no entanto, o atrito entre ambos chegou ao auge. Ao saber da briga, Bolsonaro, irritado, deixou nas mãos de Fábio Faria o poder de decidir o destino de Wajngarten, citando o histórico de conflitos do chefe da Secom. No começo deste ano, os dois voltaram a se entender, e o chefe da Secom ganhou sobrevida no cargo.

Em 2 de fevereiro, o ministro das Comunicações embarcou numa viagem de dez dias por Suécia, Finlândia, Coreia do Sul, Japão e China para visitar empresas de tecnologia 5G. O almirante Flávio Rocha, atual secretário de Assuntos Estratégicos (SAE), esteve na comitiva. As conversas para que o militar, que comandou a comunicação da Marinha, assumisse a Secom teria começado durante este período. Elogiado por ter um perfil conciliador, Rocha é considerado o oposto de Wajngarten.

Também contribuiu para Bolsonaro autorizar a demissão de Wajngarten conflitos com ministros da área militar.

Além do ministro-chefe da Segov, o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, esteve no alvo. No ano passado, Wajngarten se colocou como interlocutor do governo com representantes da P fizer para a compradas vacinas. Como a aquisição não avançou, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, passou a ser alvo de “fritura” do chefe da Secom. Bolsonaro também não gostou.

ATUAÇÃO CRITICADA

Wajngarten chegou ao governo em abril de 2019. Com perfil explosivo, ao longo de quase dois anos no governo, acumulou atritos com técnicos, militares e até com alguns integrantes da ala ideológica. A atuação dele também foi criticada pelo vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Ao chefe da Secom é atribuída a fritura que ajudou a derrubar o exministro Santos Cruz, e o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros.

Com seu tom moderado, o almirante Flávio Rocha chegou ao Planalto no início de 2020 para assumir a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), cargo que deve acumular. O militar é apontado como um “administrador de conflitos” no governo e tem atuado também como uma espécie de relações-públicas, organizando encontros do presidente com parlamentares e integrantes de outros Poderes.