Título: É importante assegurar o crédito
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/11/2008, Tema do Dia, p. A2

BRASÍLIA

Com um gigantesco mercado interno, turbinado por uma classe média de 200 milhões de pessoas, a Índia desponta no cenário mundial como um dos países que têm mais chances de atravessar a crise internacional sem grandes arranhões. Em entrevista ao Jornal do Brasil, o embaixador indiano no Brasil, B.S. Prakash fala sobre os desafios e chances que se apresentam ao país e seus parceiros dos Brics em meio às turbulências do cenário global.

Que tipo de oportunidade pode se abrir para os Brics, em um cenário internacional de crise econômica?

A crise econômica atingiu todo mundo. E, como o presidente Lula tem afirmado, nós não causamos essa crise, ela foi gerada nos EUA. Eu acredito que existam oportunidades e desafios para nossas economias nesse momento. É verdade que, devido à crise, passamos a enfrentar fuga de capitais, nossas moedas ficaram mais fracas, as exportações caíram, sobretudo por causa da desaceleração na China. Ao mesmo tempo, as economias emergentes ganharam peso e voz no cenário internacional. Hoje, não são apenas os países do G-8, os mais desenvolvidos do mundo, que cumprem um papel relevante. Os emergentes, agora e no futuro, terão espaço mais efetivo na tomada de decisões em âmbito mundial.

A Índia é apontada por analistas internacionais como um dos países que devem enfrentar menos problemas com a crise. Quais são os pontos fortes da economia indiana, nesse sentido?

Acima de tudo, sem dúvida, posso afirmar como um ponto forte seu gigantesco mercado interno, com uma classe média de 300 milhões de pessoas, que está crescendo. Não é suficiente para dizer que não seremos afetados pela crise, é claro. Haverá percalços, mas estamos confiantes no lado econômico. Tenho que lembrar, contudo, que existem outros problemas graves afetando nosso país, como o ataque terrorista que vivemos agora em Bombaim. É algo mais grave que a queda da rúpia, no lado econômico ¿ porque pode causar uma retração na confiança dos investidores ¿ e no lado humano.

Ao mesmo tempo em que conta com um mercado interno forte, a Índia enfrenta hoje uma das maiores taxas de inflação dos Brics. Como o país pode enfrentar essa questão, no atual cenário?

O primeiro passo é um firme controle na questão orçamentária, somado ao fortalecimento nos investimentos em infra-estrutura e a cortes nas taxas de juros. Infelizmente, não é fácil, na Índia, ter um pacote de incentivos fiscais ou financeiros. A dinâmica da nossa economia não permite essa ferramenta. Mas, felizmente, nós podemos contar com a confiança na nossa equipe econômica, um verdadeiro dream team de especialistas, que no momento estão na condução de nossa política financeira.

Além da inflação, quais são os maiores desafios do país, diante da crise?

O primeiro é contornar a escassez de crédito, tanto do ponto de vista internacional quanto doméstico. É algo fundamental para manter o desenvolvimento da Índia e, em última análise, é muito importante para o resto do mundo assegurar o fluxo de crédito para os Brics. Isso deve ser alvo de preocupação dos organismos internacionais. Esses países têm assegurado taxas de crescimento acima dos 4,5%, no mínimo. Se esse crescimento for prejudicado, o cenário de estagflação no mundo pode ser muito,mais dramático do que se prevê.