Título: A força dos países emergentes
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/11/2008, Tema do Dia, p. A2
Perspectivas e rumos de Brasil, Rússia, Índia e China serão debatidos em seminário promovido pelo Jornal do Brasil e Gazeta Mercantil terça-feira
Considerados o pelotão de elite dos emergentes, os países formadores do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) já são cortejados pelas grandes potências mundiais por representarem um importante mercado consumidor. O próprio criador do termo Bric, Jim O"Neill, economista-chefe do banco Goldman Sachs, acredita que o consumo dos quatro grandes emergentes será capaz de compensar a desaceleração econômica que abala o mundo. O título de seu artigo recentemente publicado no Financial Times sinaliza o peso e a importância que os quatro países terão nos próximos 40 anos: Bric podem apontar a saída da lama.
Dentro dessa perspectiva, o Jor - nal do Brasil e a Gazeta Mer- cantil realizam o seminário Bric - As potências emergentes na visão da di- plomacia e da mídia, terça-feira, no auditório da Fecomércio, para dis- cutir o papel que os quatro países desempenham na economia global e as prováveis saídas diante do cenário de crise mundial. Dois palestrantes ministro Carlos Duarte, diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty, e B.S. Prakash, embaixador indiano no Brasil concordam que Brasil, Rússia, Índia e China, unidos, são capazes de impor uma nova ordem mundial, com maior representatividade na decisões internacionais.
São países que se posicionam de forma muito clara a favor de uma nova ordem mundial. A oportunidade é de ganhar mais peso no cenário internacional opina o ministro Carlos Duarte, diretor do Departamento de Organismos Internacionais do Itamaraty.
O embaixador indiano no Brasil, B.S. Prakash, concorda que o crescimento dos Brics impôs uma reformulação das forças políticas:
Ao mesmo tempo, as economias emergentes ganharam peso e voz no cenário internacional. Hoje, não são apenas os países do G-8 que cumprem papel relevante.
Diante do visível aumento de influência global dos quatro países, o Eugene Abov, CEO da Ros- siijskaya Gazeta da Federação Russa destaca a importância dos meios de comunicação como uma como ferramenta para promover a cooperação entre os Brics, que estão se transformando em grandes potências econômicas.
O termo Bric já virou um jargão no meio econômico, e sinônimo de "boa marca", como destaca Marcos Troyjo, diretor-geral do Jornal do Brasil e da Gazeta Mercantil. Para o executivo, autor do livro Brics - Riscos e oportunidades para empresas brasileiras, a ser lançado em breve, a força do nome oculta uma realidade: os quatro países não formam ainda um bloco de fato:
Os Brics mantêm relacionamentos comerciais e diplomáticos de forma pendular. Um bom exemplo disto está nas recentes rusgas entre a brasileira Vale e seus parceiros. O episódio mostrou o quanto são frágeis as relações econômicas entres estes países. Apesar de serem grandiosos em três pontos em comum população, PIB e território os Brics não se apresentam ainda como um bloco único para o mundo, assumindo posições em conjunto em debates mundiais. Marcos Troyjo destaca que os quatro países mantêm planos e metas distintas e individuais: Os Brics só serão um bloco se realmente for construído algo neste sentido.
Falta a estes países uma agenda de construção de confiança. Estimular a confiança mútua através da diplomacia é o caminho apontado pelo cônsul da China, Li Baojun, para promover a integração dos Brics como um bloco. Devemos aproveitar a parceria entre os quatro países para encorajar um alto nível de diálogo, coordenação e cooperação. A grande questão, na opinião de Marcos Troyjo, reside no futuro desse grupamento. Se eles assumirão a posição de novo ator no cenário internacional, com uma plataforma de cooperação, ou continuarão como um grupo de "países baleias", onde cada um trabalhará por interesses pessoais.