Título: Governo insiste no crescimento
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 30/11/2008, Economia, p. E3

Fazenda elegeu montadoras, empreiteiras e o agronegócio para estimular emprego no país

Leda Rosa

SÃO PAULO

Em Brasília, fazer o PIB crescer 4% em 2009 é o novo mantra do governo. Para alcançar tal meta, a equipe econômica adota ações anticíclicas, entre as quais ganha relevo o investimento em setores prioritários, que mais empregam e demandam crédito. Na mira, a construção civil, o agronegócio e o setor automotivo.

À construção civil o governo dá atenção especial. Não sem motivo. O setor foi o que teve encorpadas taxas de crescimento em novas vagas. Neste ano, o PIB da construção deve chegar a 7,6%. De janeiro a outubro, foram mais de 303 mil novos postos, em uma média de 30 mil carteiras assinadas por mês.

Mas, em outubro, a crise chegou aos canteiros. Foram só 2.149 novos empregos, 63% dos quais no Rio de Janeiro. Para realizar o sonho do presidente Lula, de "manter o Brasil como um grande canteiro de obras", Mantega manteve os investimentos públicos nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e incentivou o investimento privado. Acenou até com a redução de impostos.

Outro destino prioritário são os programas de construção de moradias para rendas médias e baixas, com aportes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).

Tamanho empenho oficial fez o ministro Carlos Lupi, titular da pasta do Trabalho e Emprego, alardear a geração de 1,8 milhão de vagas em 2009. Até o fim de 2008, com 5% de crescimento do PIB, as estimativas indicam 2 milhões de novos postos de trabalho, resultado histórico no país que vê chegar, todo ano, no mínimo 1,5 milhão de novos trabalhadores ao mercado.

¿ É quase impossível o Brasil ter em 2009 um desempenho em termos de geração de postos de trabalho igual ao que tivemos este ano ¿ prevê Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). ¿ Se mantivermos taxa de crescimento próxima de 5,5%, será possível criar de 1,8 milhão a 2 milhões. Se ficar em 3,5% ou 4%, teremo queda significativa.

Segundo Lúcio, o incremento de 4% do PIB não possibilitaria nem 1 milhão de novos empregos.

¿ É difícil neste momento imaginar o futuro. A construção civil vive, de um lado, um momento de preocupação e, de outro, mantemos os elementos fermentadores da atividade do setor, que são a poupança e o FGTS ¿ diz Antonio Carlos Mendes de Souza, diretor do Sindicato da Construção Civil do Rio de Janeiro (Sinduscon).

Só neste ano as duas fontes irrigaram as obras com R$ 50 bilhões. Como resultado, 450 mil novas residências.

¿ E quando se pensa que o déficit habitacional do país é de 10 milhões de domicílios, vê-se o potencial do setor ¿ diz Souza, que considera esgotado apenas o segmento da classe média alta, devido ao volume de lançamentos dos últimos meses dirigida à esta faixa.

Mesmo assim, com o recuo dos investimentos privados e do crédito imobiliário, Souza vê as obras de infra-estrutura como o grande motor do setor em 2009.

¿ Em 2009 vai haver um período de observação, um freio de arrumação para ver como a economia vai se comportar nos próximos seis meses ¿ diz Luiz Fernando dos Santos Reis, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), ao salientar que a espera só alcançará as empresas privadas. ¿ Não sentimos nenhum indício de paralisação nas obras do PAC. Há recursos já aprovados para o setor.

Para o desemprego não entrar nos canteiros do PAC, Reis diz que é fundamental a manutenção do cronograma das obras.

¿ O governo não consegue dar a continuidade que queria nos projetos e fica bem aquém dos prazos por causa das questões ambientais, que atrasam muito o processo ¿ diz.

Reis cita o caso da suspensão da licença da usina de Jirau, no Rio Madeira, na região Norte.