Título: Recessão nos EUA é oficial
Autor: Grynbaum, Michael M.
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2008, Tema do Dia, p. A2

A evidência de uma recessão vem se alastrando por meses: produção desacelerada, salários estagnados e centenas de milhares de empregos perdidos.

Mas o apartidário National Bureau of Economic Research, ansioso por dar o telefonema para os livros de história, aguardou até agora para dar posição oficial ¿ e o anúncio veio no dia em que o mercado de ações americano caiu quase 9 pontos percentuais em apenas uma sessão.

A decadência em Wall Street ¿ o setor industrial do Dow Jones despencou 679,95 pontos ou 7,7% ¿ aparentava ser mais sobre como obter lucros do que sobre a economia propriamente.

Há tempos que investidores consideram que o país enfrentava uma recessão, e analistas dizem que, depois dos ganhos da última semana ¿ incluindo cinco dos maiores dias em décadas ¿ uma liquidação era esperada.

Ainda assim, as surpreendentes perdas de ontem lembraram investidores de que nada pode ser previsto no ambiente atual. O principal indicador despencou centenas de pontos, desde o início, conduzido por imensas quedas dos papéis de firmas financeiras.

Os títulos do Citigroup, Merrill Lynch e Morgan Stanley caíram quase 20%. Alguns dos maiores bancos de Wall Street também tiveram quedas percentuais de dois dígitos.

¿ As financeiras lideraram a subida, e fizeram o mesmo na descida ¿ comparou Anthony Conroy, operador de incorporações da BNY ConvergEx Group.

O indicador do Standard & Poor´s caiu 8,9% e o do Nasdaq, 8,95%. Tanto o S&P quanto o Dow Jones voltaram aos níveis da segunda-feira anterior, apagando quase quatro dias de ganhos.

Mercados futuros de petróleo bruto para janeiro fecharam o dia em US$ 49,34 o barril, uma queda de US$ 5,09 nas negociações em Nova York.

Alguns operadores de fundos mútuos e de longo prazo ¿ antecipando pedidos de resgate enormes de seus clientes ¿ podem ter interpretado a última semana como uma boa razão para livrarem-se de bens a um preço razoável. Outros investidores podem ter se assustado com o dilúvio de notícias ruins sobre a economia, incluindo a pior leitura da saúde da indústria de manufaturas desde 1982.

Investidores podem também estar sendo defensivos, enquanto aguardam relatório sobre o mercado de empregos, que sairá na sexta-feira ¿ um dos mais importantes indicadores da saúde da economia. Analistas acreditam que empregadores acabaram com mais de 300 mil vagas em novembro, reafirmando, assim, os problemas que afetam trabalhadores e negócios americanos.

É extraordinário que, em um dos piores dias da história do mercado de ações, não houve pânico em Wall Street. Em seis horas e meia, o S&P caiu mais de 8 pontos ¿ o tipo de colapso que, historicamente, demoraria anos para ocorrer. Mas, na nova Wall Street, a reação foi silenciosa.

¿ Investidores aos poucos se acostumaram com isso, depois de ver acontecendo dias após dia, mês após mês ¿ explica Todd Salamone, um analista da Schaeffer¿s Investment Research. ¿ Há um ano, uma movimentação de 8 pontos teria levantado muito mais sobrancelhas do que hoje em dia.

Contração no mercado

A diferença é que o país entrou em uma recessão há exatamente um ano, de acordo com o Business Cycle Dating Committee, composto por sete proeminentes economistas, a maioria saído do setor acadêmico. O grupo fez ontem o seu anúncio oficial de que a economia entrou em recessão em dezembro do ano passado

"A recessão é uma queda significativa na atividade econômica que se espalha pela economia, durante alguns meses, e se reflete na produção, empregos, receitas e outros indicadores", observou o grupo. "A recessão começa quando a economia atinge um pico de atividade e termina quando a economia atinge seu limite".

O comitê argumentou que a contração no mercado de trabalho começou no primeiro mês deste ano e que as quedas na maioria dos indicadores ¿ como receitas individuais, atividades manufatureiras, vendas a varejo e produção industrial ¿ "encontraram um padrão para uma recessão".

"Muitos desses indicadores, incluindo relatórios mensais no maior componente do PIB, o consumo, despencaram rapidamente nos meses recentes", ressaltaram os autores na análise.