Correio Baziliense, n.21114 , 16/03/2021. Economia, p.6

 

PIB encolhe 45% em dólar em 10 anos

16/03/2021

 

 

De acordo com o economista Paulo Rabello de Castro, consultor e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o quadro econômico é preocupante. Um estudo feito por ele e por Marcel Caparoz, ambos da RC Consultores, mostra que, em dólares, o PIB brasileiro encolheu 45% nos últimos 10 anos e, neste ano, ficará estagnado. Pelas projeções dos dois analistas, passará de US$ 1,445 trilhão, em 2020, para US$ 1,449 trilhão, em 2021, patamares bem abaixo do registrado em 2009, quando o PIB somou US$ 1,673 trilhão, ano da crise financeira global.

"A partir de 2011 registrou-se um recuo expressivo do PIB medido em dólar. O país não só estagnou como, inclusive, recuou em moeda forte, desperdiçando uma década inteira de esforços da sociedade", informa o documento da RC. A análise indica, ainda, que o ciclo de juro real (descontada a inflação) é negativo, apesar de ser uma tendência global. "O Brasil, certamente, não está entre os países que podem brincar com juros negativos, porque poucos possuem capacidade fiscal e de setor externo para sustentar essa política", acrescenta o estudo.

Rabello de Castro também não tem dúvidas de que esse cenário ainda pode piorar devido à falta de avanços na vacinação em massa contra a covid-19. "A culpa central disso é exatamente do ministro Paulo Guedes (Economia), que o mercado ressalta como sendo o indivíduo que quis fazer o melhor e não conseguiu", alfineta. Ele ainda ressalta que a agenda reformista não tem condições de avançar mais, porque o presidente Jair Bolsonaro não dispõe mais de capital político para adotar medidas de ajuste fiscal e reformas estruturais, que são impopulares. "Ele não fez quando podia e só conseguiu aprovar a reforma da Previdência em 2019. E não é agora, com a economia patinando e completamente sem força, que vai adotar essa agenda de redução de gasto público", resume.

E com a reviravolta no cenário político com a possível volta da elegibilidade do ex-presidente Lula, o ano de 2021 está profundamente comprometido do ponto de vista de desempenho e recuperação, de acordo com Rabello de Castro. "Sob a ótica política, com a reverberação da figura de Lula, saltamos para 2022 da noite para o dia. E isso é péssimo para a já cambaleante autoridade dos gestores atuais na área econômica, que ainda não tem Orçamento para o ano corrente", frisa. "Um ainda maior desequilíbrio cambial e inflacionário, neste momento de extrema fragilidade para o governo, sepultaria de vez as chances de Bolsonaro nas eleições de 2022", emenda. (RH)

Sem fôlego

Com a forte desvalorização do real, que ajuda a pressionar a inflação, o PIB brasileiro acumula queda de 45% em dólares nos últimos 10 anos. Neste ano, o indicador deve ficar estagnado e abaixo do valor registrado em 2009:

Ano Valores em US$ trilhão
2008 1,693
2009 1,673
2010 2,210
2011 2,614
2012 2,464
2013 2,468
2014 2,455
2015 1,796
2016 1,800
2017 2,063
2018 1,916
2019 1,877
2020 1,445
2021 1,449

Fonte: RC Consultores