Correio Baziliense, n.21114 , 16/03/2021. Saúde, p.11

 

Vacina na berlinda

16/03/2021

 

 

 

OMS convoca reunião emergencial para debater a segurança do imunizante da Oxford/AstraZeneca, que teve o uso suspenso em uma dúzia de países após ser vinculada a efeitos colaterais graves. Cientista da universidade britânica descarta relação do fármaco com casos de trombose

Diante da grande polêmica em torno de severos efeitos colaterais supostamente provocados pela vacina anticovid da Oxford/AstraZeneca, a Organização Mundial da Saúde (OMS) marcou para hoje uma reunião de emergência de seu grupo de especialistas para analisar a segurança do fármaco. A convocação foi anunciada pouco depois de a agência das Nações Unidas ter tentado aplacar os ânimos em relação ao imunizante, cuja aplicação foi suspensa por uma dúzia de países por suspeita de relação com desenvolvimento de coágulos sanguíneos.

"Não queremos que as pessoas entrem em pânico e, por enquanto, recomendamos que os países continuem a vacinar com a AstraZeneca", declarou um funcionário da OMS, ontem, depois que Alemanha, França e Itália decidiram parar de usar o fármaco. No domingo, Irlanda e Holanda engrossaram a lista de países, principalmente na Europa, que adotaram a medida preventiva. Seguiram a decisão já tomada por Dinamarca, Noruega, Tailândia, entre outros.

Em meio aos temores, Andrew Pollard, diretor do grupo de vacinas de Oxford, saiu em defesa do produto. "Há provas muito tranquilizadoras de que não há um aumento no fenômeno de trombose aqui no Reino Unido, onde se aplicou a maioria das doses na Europa até agora", afirmou o diretor do grupo de vacinas de Oxford, Andrew Pollard.

"É absolutamente essencial que não tenhamos o problema de não vacinar as pessoas e correr um risco enorme, um risco conhecido de covid, em comparação como o que os dados que obtivemos dos reguladores mostram até agora: nenhum sinal de problema", frisou Pollard, em entrevista à Rádio 4 da BBC.

Em uma nota divulgada no domingo, o laboratório AstraZeneca reafirmou que não há evidências de aumento dos coágulos sanguíneos causado pela vacina. A manifestação ocorreu após a análise dos resultados de 17 milhões de doses.

Abaixo da média

Cientistas de Oxford defenderam que os 15 casos relatados de trombose venosa profunda e os 22 casos de embolia pulmonar, registrados entre pessoas que receberam a vacina, representam um percentual "muito menor do que seria esperado que ocorresse naturalmente" em uma população geral. "A natureza da pandemia levou a uma maior atenção a casos individuais, e estamos indo além das práticas habituais de controle de segurança", declarou a diretora médica da AstraZeneca, Ann Taylor.

Assim como a OMS, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), até o momento, corroborou que não há evidências que justifiquem a interrupção do uso da vacina AstraZeneca.

"Em termos de qualidade, também não há problemas confirmados em relação a qualquer lote da nossa vacina usada na Europa, nem no restante do mundo", afirmou Ann Taylor.

Sputnik V

Mais de 373 milhões de doses de vacinas contra o coronavírus foram administradas em todo o mundo. A da AstraZeneca, uma das mais baratas, é considerada crucial para as nações mais pobres. Enquanto esse imunizante está sob suspeita, a Rússia anunciou acordos de produção da vacina Sputnik V com empresas da Itália, Espanha, França e Alemanha, à espera de sua homologação na União Europeia (UE).

"Há outras conversas em curso para aumentar a produção na UE. Isso permitirá começar a abastecer o mercado único europeu com a Sputnik V, assim que a EMA aprovar", afirmou, em comunicado, o presidente do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), Kirill Dmitriev. Até o momento, a EMA autorizou o uso de quatro vacinas: Pfizer-BioNTech, Moderna, AstraZeneca e Johnson & Johnson.

Em pouco mais de um ano, a pandemia de coronavírus ultrapassou a marca de 2,6 milhões de mortes em todo mundo, e a maior parte da humanidade está submetida a restrições, de maior ou menor nível.

Frase

"Há provas muito tranquilizadoras de que não há um aumento no fenômeno de trombose aqui no Reino Unido, onde se aplicou a maioria das doses na Europa até agora"
Andrew Pollard, diretor do grupo de vacinas de Oxford