Correio Braziliense, n. 21111, 13/03/2021. Brasil, p.4
Nas últimas 24 horas, foram 2.216 óbitos para o novo coronavírus, de acordo com os dados levantados pelo Conass. Foi o terceiro dia seguido em que o número de vidas perdidas para a doença ultrapassou dois milhares. Rio e São Paulo adotam mais medidas restritivas
Carinne Souza*
Fernanda Strickland*
O Brasil registrou, pelo terceiro dia seguido, mais de duas mil mortes decorrentes da covid-19 — entre quinta-feira e ontem, foram 2.216 vidas perdidas para a doença, de acordo com dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde e reproduzidos pelo Ministério da Saúde. Se somado mais este número de óbitos nas últimas 24 horas, o país viveu a mais letal semana da pandemia do novo coronavírus: entre os dias 6 e 12 de março, são 12.335 pessoas que não resistiram à força do agente infeccioso. Até então, a pior semana da crise sanitária tinha sido entre os dias 27 de fevereiro e 5 de março deste ano, quando registraram-se 9.935 mortes.
No acumulado, 275.105 brasileiros perderam a vida para o novo coronavírus e 11.363.380 tiveram o diagnóstico confirmado para a covid-19, superando a Índia. De acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), a média móvel de casos — que leva em consideração números dos últimos sete dias — ultrapassa 70.500 mil, e a de óbitos encontra-se em 1.762, amaior do mundo. Em relação à infecção, foram 85.663 novos afetados nas últimas 24 horas.
De acordo com boletim elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e divulgado ontem, o Brasil responde por 9,5% dos casos registrados no mundo, e 10,3% dos óbitos globais. O levantamento indica que o resultado seria o mesmo, ainda que os brasileiros correspondam "a menos de 3% da população mundial".
Pesquisadores também observam que o Brasil jamais, ao longo de um ano, alcançou uma redução significativa na curva de transmissão da covid-19. Segundo os dados coletados pela Fiocruz, há uma progressão clara de novos casos e óbitos a cada dia, o que empurra os sistemas de saúde — públicos e particulares — dos estados e municípios em direção ao colapso.
O boletim informou, ainda, que, no último período analisado pela fundação, apenas o Pará reduziu a ocupação de leitos de UTI. "Somente o Pará apresentou melhora para a saída da zona de alerta crítico e retorno à zona de alerta intermediário. Dezessete estados e o Distrito Federal mantiveram taxas iguais ou superiores a 80%, e mais dois estados somaram-se a eles, resultando em um total de 20 unidades federativas na zona de alerta crítico, das quais 13 com taxas superiores a 90%. Seis estados que se mantiveram na zona de alerta intermediária (entre 60% e abaixo de 80%) apresentaram crescimento do indicador", apontou o documento.
*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi
________________________________________________________________________________________________________________________
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu 48 horas para que o governo federal esclareça se está cumprindo a ordem de custeio dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com covid-19 em São Paulo, dada por ela, no final de fevereiro. A decisão foi tomada depois que o governo paulista comunicou à Corte que o Ministério da Saúde ainda não habilitou todas as vagas solicitadas pelo estado. Segundo a Procuradoria de São Paulo, apenas 678 leitos foram autorizados desde que a União foi formalmente obrigada a cobrir os gastos.
No documento, enviado na última quarta-feira, a gestão de João Doria afirma estar agindo para evitar colapso da rede pública de saúde, mas denuncia o que classifica como "situação de inércia federal". "O estado de São Paulo está enfrentando risco real de colapso em seu sistema de saúde tendo em vista estar arcando com todo o encargo financeiro relativo aos leitos que contavam com financiamento federal", diz o ofício.
Na avaliação da ministra, as informações prestadas pelo governo de São Paulo sugerem "descumprimento" da liminar expedida por ela. "As informações produzidas pelo estado de São Paulo parecem sugerir que o Ministério da Saúde estaria descumprindo a ordem judicial", diz trecho do despacho da minitra.
Rosa alerta que o descumprimento da ordem judicial pode configurar crime de prevaricação, ato de improbidade administrativa e crime de responsabilidade do ministro Eduardo Pazuello.
A ministra é relatora de um bloco de ações ajuizadas pelos governos estaduais cobrando a ajuda financeira da União. Além de São Paulo, a ministra deu decisões favoráveis a Bahia, Maranhão, Piauí e Rio Grande do Sul, determinando a volta do financiamento dos leitos de UTI pela Saúde. O ministério nega que tenha havido suspensão de pagamentos.
__________________________________________________________________________________________________________________________
O comando da Organização Mundial da Saúde (OMS) voltou a demonstrar preocupação com o quadro da pandemia do coronavírus no Brasil, cobrando medidas "sérias" e "clareza" de autoridades e todos os envolvidos para enfrentar o problema. "A situação no Brasil certamente tem piorado, com incidência muito alta de casos e aumento das mortes pelo país, bem como uma elevação muito rápida na ocupação de UTIs e muitas áreas vendo lotar os leitos de UTIs", afirmou, ontem, o diretor-executivo da entidade, Michael Ryan.
Ele lembrou que, em várias áreas do país, os sistemas de saúde estão "bastante pressionados", notando também o aumento das porcentagens de testes positivos para a doença. Ele comentou o risco que isso representa, não apenas para as fronteiras nacionais. "O que acontece no Brasil importa, e importa globalmente", reconheceu. A OMS notou que, caso o quadro na emergência de saúde continue a piorar no país, isso terá impacto em outras nações da região.
"Certamente gostaríamos de ver o Brasil indo em direção diferente, mas será necessário um grande esforço para isso", disse Ryan, completando que vê o sistema de saúde local "consideravelmente pressionado". Segundo ele, muitos países nas Américas se movem agora "em direção positiva" na pandemia, mas "não o Brasil".
"Não tenho dúvida de que a ciência e o povo brasileiros podem contornar essa situação. A questão é: eles podem conseguir o apoio de que necessitam para fazer isso?", questionou.
A epidemiologista responsável pela resposta da OMS à pandemia de covid-19, Maria Van Kerkhove, lembrou do fato de que uma cepa do vírus, a P.1, localizada inicialmente em Manaus, é "fonte de preocupação" e circula pelo Brasil. Segundo ela, a variante parece transmitir mais rápido e há a sugestão segundo algumas pesquisas de que ela pode ser "mais severa".
Kerkhove disse que uma cepa mais contagiosa tende a colocar mais pressão sobre o sistema de saúde, mas notou que, ainda assim, o vírus "pode ser controlado", com medidas de saúde pública como máscaras, distanciamento social e lavagem de mãos.