Correio Braziliense, n. 21111, 13/03/2021. Cidades, p.13

 

Quando o bolso pede socorro

ENDIVIDAMENTO » Entenda algumas estratégias simples, mas bem úteis, de que o brasiliense tem lançado mão para tentar driblar as constantes altas nos preços de alimentos e combustível no Distrito Federal, em meio à crise desencadeada pela pandemia da covid-19

Pedro Marra

 

Além do colapso na rede de saúde do Distrito Federal gerado pela multiplicação nos casos de covid-19, outro problema enfrentado pela população tem sido a constante alta nos preços, principalmente dos alimentos e dos combustíveis. Com o objetivo de economizar nas despesas domésticas, o brasiliense inventa estratégias para driblar as dívidas.

Desempregado há cinco meses, André Borges das Virgens, 37 anos, diz que a alternativa é priorizar determinados alimentos no momento das compras. "Eu comia carne vermelha, mas passei a optar por frango e ovo, por exemplo. Ano passado, quando eu estava empregado e ganhava bem, era só peças de primeira qualidade", lembra o ex-agente de portaria. "Mas até o arroz aumentou. O preço mais caro do pacote era R$ 15, no começo de 2020. Hoje, está em torno de R$ 22. O óleo de cozinha mais simples, essencial no preparo dos alimentos, custava R$ 3,99. Com a inflação, subiu para R$ 5,99 ou R$ 6,99, em alguns mercados", afirma o morador do Paranoá.

Casado e pai de três filhos – um adolescente de 13 anos, outro de 5 e uma menina de 3 – André conclui que a pandemia o pressionou a fazer escolhas para não faltar alimento em casa.

Outro rearranjo é na hora de abastecer o carro. André coloca apenas R$ 30 de álcool no posto de combustível. "A gasolina está muito cara. Eu pagava R$ 3,99. Atualmente, tem lugar que cobra R$ 5,79. O álcool não está muito longe disso, a R$ 4,79, mas é o que dá para comprar", protesta. Economia suficiente para buscar melhores preços nos mercados perto de casa. "Não compro em apenas um comércio. Vou em atacadões, no Itapoã, aí compro uma parte da lista. Depois, sigo a outros para comparar os preços.

Devido aos decretos frequentes de medidas restritivas no DF, ele tem comprado mais quantidades de determinados alimentos essenciais com o objetivo de fugir de futuras altas e, assim como, do desabastecimento.

O empresariado também tem se desdobrado para seguir com o negócio funcionando em meio à crise. Dono de um tradicional restaurante na 403 Norte, Andrei Prates, 30, diz que o principal desafio é não passar os reajustes das mercadorias para o cliente. "Estamos comprando com valores 40% superior. É preciso fazer ter alternativas e pensar em soluções para não salgar demais os valores", destaca. Com 18 funcionários no quadro, obrigatoriedade do serviço delivery e gastando além do normal com carnes e massas Andrei conta a estratégia usada: "oferecer refeições grandes para a família completa, com cerca de 1,5kg de comida. Trabalhar com combos é substancialmente mais lucrativo, mas aumenta a produção e torna-se economicamente mais vantajoso para o consumidor", explica.

Ele cita outras táticas de venda para não fechar as portas. "Temos um pico de vendas das 19 às 21h, quando chegam vários pedidos de uma só vez. Nesse momento, tentamos nos programar tanto na logística de preparo do alimento quanto na de entrega, para não desperdiçarmos tempo, produtos, mão de obra e combustível, por exemplo", conta.

 

Educação financeira
O nível de preços da capital federal, mensurado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), teve aumento de 1,18% no mês passado. O percentual é o mais elevado para o mês desde 2012 e supera a variação registrada para o Brasil, que foi de 0,86%. Entre as 16 regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a inflação de Brasília (DF) é a terceira maior, atrás apenas de Fortaleza (CE), com alta de 1,48%, e de Belém (PA), cuja inflação foi de 1,41%.

Neste cenário, o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em economia doméstica, Roberto Bocaccio Piscitelli, destaca o uso de transporte individual no DF como um dos fatores de influência para o controle da finança pessoal. "A tendência é de que haja elevação de preços nos combustíveis. É preciso utilizar outro meio de transporte alternativo", recomenda.

Para o economista e especialista em finanças pessoais do Ibmec-DF, William Baghdassarian, nesse ambiente de empobrecimento, temos que ser muito eficientes no uso do dinheiro. "Toda perda precisa ser evitada. Quando for fazer comida, faça para um prazo maior e congele. Dependendo da época do ano, se você escolher alimentos fora de safra, você vai pagar mais, então procure aqueles produtos da época, consequentemente mais baratos", aconselha William.

Na opinião do economista, o alto desemprego no Distrito Federal faz com que as pessoas com trabalho fiquem alertas para pouparem dinheiro neste momento. "Muita gente que está empregada agora pode não ficar daqui a pouco", alerta William.