Título: Brasil estipula metas para reduzir gases poluentes
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2008, País, p. A7

País também quer diminuir desmatamentos em 72% até o ano de 2017.

Depois do impasse criado entre setores do governo brasileiro, principalmente o Itamaraty, e as organizações não-governamentais, o governo federal lançou ontem, em Brasília, o Plano Nacional sobre Mudança do Clima que traz metas ousadas a serem cumpridas pelo Brasil. Até 2017, o país deve reduzir 72% do desmatamento da Amazônia. Segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com o plano, o Brasil se propõe a reduzir sozinho em três vezes as emissões que todos os países signatários do protocolo de Kyoto se comprometeram a reduzir. O Itamaraty sempre resistiu ao estabelecimento de metas de redução por acreditar que o Brasil não deveria assumir tamanha responsabilidade por iniciativa própria. Mas as pressões dos ambientalistas venceram.

As metas são progressivas. Entre 2006 e 2009, o objetivo é reduzir o desmatamento em 40%, em relação à média registrada entre 1996 e 2005, e 30% nos dois quadriênios seguintes, 2010-2013 e 2014-2017. Se cumpridas, 4,8 bilhões de toneladas de dióxodo de carbono (CO2) não serão lançados na atmosfera. No Brasil, o desmatamento e as queimadas são responsáveis por 75% das emissões de gases causadores do efeito estufa.

¿ Nosso plano é mais que o esforço de todos os países desenvolvidos ¿ argumentou Minc. ¿ A Inglaterra que tem meta agressiva prevê a redução de 80% do desmatamento, mas até 2050. Nosso foco é 2017.

Responsabilidade conjunta

Segundo o ministro, o êxito do plano depende da ação conjunto de governos federal e estaduais, além do compromisso do setor produtivo e da sociedade civil, que deve cobrar ações de controle e ser mais responsável na hora de consumir.

O plano prevê, também, a implementação de uma política nacional de eficiência energética, que diminuirá em 10% o consumo de energia elétrica até 2030, o que representa a não emissão de cerca de 30 milhões de toneladas CO2

Está prevista a ampliação em 11% ao ano da participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira nos próximos dez anos para evitar a emissão de 508 milhões de toneladas de CO2

O aumento do número de árvores plantadas é outra meta do plano. A idéia é aumentar de 5,5 milhões de hectares plantados para 11 milhões de hectares em 2017, sendo 2 milhões de espécies nativas. Para o ministro, essa meta, especificamente, visa mudar o perfil de consumo do setor siderúgico que usa carvão mineral feito às custas da destruição de mata nativa.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou-se satisfeito com o plano que é "melhor que o da Índia, da China, e de outros países que nem assinaram o protocolo de Kyoto".

Lula disse que é preciso discutir com o ministro da Justiça, Tarso Genro, a criação de uma polícia nacional florestal para ajudar na fiscalização das florestas brasileiras.

¿ Não adianta nada criar um plano ótimo e só ter um fiscal do Ibama para fiscalizar um área enorme em um carrinho sem gasolina ¿ afirmou Lula, que mostrou-se chocado com a atitude de madeireiros que queimaram uma sede do Ibama em Paragominas (PA), na semana retrasada, para recuperar madeira explorada ilegalmente.

O presidente reforçou o compromisso firmado com Minc de reunir, no início do ano que vem, os prefeitos das cidades que mais desmatam no Brasil para estabelecer metas municipais de combate à devastação florestal. Disse, ainda, que a proposta do governo que cria o zoneamento agro-ecológico da cana-de-açúcar já está pronto e será enviada ao Congresso Nacional para ser votada como projeto de lei, não como medida provisória, para acelerar sua aprovação.