Título: Sigla começa a ganhar ares que vão além de fórum econômico
Autor: Raposo, Fred; Gombata, Marsílea
Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2008, Tema do Dia, p. A2

O que até então se tratava de uma sigla que sugeria um fórum econômico comum começa a tornar contornos mais rígidos e concretos, visando a parcerias de trocas efetivas e defensoras de interesses comuns.

Ainda definindo como serão amarradas as ligações, os países emergentes que compõem o Bric voltam-se para seu universo em comum para impulsionar crescimento e multilateralismo global.

¿ Não somos, definitivamente, inimigos ¿ analisa Eugene Abov, diretor-executivo da Rossiijskaya Gazeta, de Moscou. ¿ Mas, sem dúvida, seremos grandes competidores no futuro. E temos a responsabilidade de lidar com a crise econômica à frente. O peso dos Estados Unidos, certamente, será menor. E o papel dos Brics, maior. O equilíbrio da balança mundial será dado entre os EUA e os Brics.

Ainda que não possam ser identificados por traços históricos, ideológicos ou culturais comuns, as quatro nações têm características de convergência como contingente populacional, base territorial grande, recursos naturais e "certo sentimento de distanciamento entre o potencial e a realidade", observa o ministro Carlos Sérgio Duarte, do Ministério das Relações Exteriores.

¿ Interesses comuns como estratégicos, por uma nova ordem multipolar; econômicos, com um sistema comercial aberto e não protecionista; e relativos à diversidade cultural e étnica, no entanto, serão fundamentais na união dos quatro ¿ avalia Duarte.

Depois da reunião de chanceleres, em maio, em Ecaterimburgo, na Rússia, e da de ministros da Fazenda, no mês passado, em São Paulo, o convite do presidente russo, Dmitri Medvedev, para a primeira cúpula de chefes de Estado, prevista para março, em Moscou, é passo definitivo para a concretização do grupo emergente.

Intercâmbio

O cônsul-geral da Rússia, Alexey Labetskiy, lembra, no entanto, a necessidade em expandir a convergência além dos campos econômicos e políticos:

¿ Os últimos acontecimentos provam que um sistema baseado em foco único não funciona ¿ alertou. ¿ Para mudar isso, são necessários laços humanos. É preciso ir além da imagem que russos têm do Brasil: Copacabana e Cristo; e da que brasileiros têm da Rússia: vodca e urso.

Neste sentido, Abov acredita num papel indispensável à mídia:

¿ O intercâmbio midiático funciona como catalisador das relações entre esses países. Ajudará com que os países se conheçam e nutram mais interesses culturais, econômicos e políticos uns pelos outros.