Título: Falta de unidade coloca em risco potencial de protagonistas
Autor: Raposo, Fred; Gombata, Marsílea
Fonte: Jornal do Brasil, 03/12/2008, Tema do Dia, p. A2

Em artigo na Financial Times, Jim O¿Neil dizia que o grupo das quatro nações pode "indicar a saída" para a atual crise que castiga o mundo.

O mérito dos países emergentes, no entanto, dependerá fundamentalmente do caminho que protagonistas tomarão daqui por diante.

O papel dos "multiprotagonistas", como classifica Marcos Troyjo, CEO da Companhia Brasileira de Multimídia (CBM), tende a se definir especialmente até o ano de 2050, quando "acaba a maratona para saber quando e quanto os Brics poderão influenciar".

Até lá, no entanto, é preciso que os membros atentem para a realidade de que têm dificuldades em arquitetar tanto projetos quanto pontos de vista comuns.

¿ Há dificuldade em se projetar projetos comuns ¿ lembra. ¿ E de pensar em projetos para si e para o mundo. Os Brics têm projetos? Não, são muito diferentes entre si ainda.

A falta de unidade em assuntos como o Conselho de Segurança da ONU e a OMC e em setores como telecomunicações e agricultura sinaliza um longo caminho adiante.

¿ Não somos um bloco ¿ alerta Troyjo. ¿ E ainda estamos construindo muito pouco. Temos falado pouco nessa plataforma.

Desvantagem

Detentor do menor Produto Interno Bruto dos quatro países, o Brasil tem sido criticado por não se engajar o quanto poderia diante dos parceiros emergentes.

¿ Se não prestarmos atenção, esse grupo correrá o risco de se chamar Rics dentro de algum tempo ¿ analisa José Carlos Vidal, consultor da presidência da Petrobras. ¿ O Brasil tem de reagir.

Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, faz um alerta ao lembrar-se do cenário quase inverso ao de hoje, na época em que chegou aqui:

¿ O Brasil vivia o milagre econômico, enquanto na China um trabalhador ganhava menos de US$ 20 por mês. A China não tinha divisas para nada e hoje é a terceira maior economia do mundo.

Ao questionar por que o Brasil ¿ que crescia duas vezes mais e tinha o dobro do PIB chinês ¿ não acompanhou a trajetória, Tang culpa a combinação de encargos tributários, legislação trabalhista não renovada, câmbio desfavorável e as maiores taxas de juros do mundo ¿ que "abafam o crescimento brasileiro".