Correio Braziliense, n.21115 , 17/03/2021. Política, p.3

 

Ramos sobre Queiroga: "Não teremos paciência"

17/03/2021

 

 

PODER » Vice-presidente da Câmara deixa transparecer mágoa do Centrão com a escolha do novo titular do Ministério da Saúde e diz que ele tem a obrigação de "acertar ou acertar"

O novo ministro da Saúde, o cardiologista Marcelo Queiroga, assumirá a pasta sob desconfiança de políticos do Centrão — grupo de partidos que controla o Congresso e forma a principal base de apoio do presidente Jair Bolsonaro no Legislativo. O médico precisará agir e mostrar resultados logo para não ganhar a antipatia do grupo, segundo o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara. "Não teremos paciência com ele (Queiroga). É acertar ou acertar", avisou o parlamentar.

Aliado do presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL), Ramos publicou no Twitter que "a situação não permite que o ministro da Saúde tenha tempo para aprender a ser ministro". "As respostas terão que ser rápidas e efetivas."

Queiroga foi anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro como novo ministro da Saúde, em substituição ao general da ativa Eduardo Pazuello. A pressão de políticos do Centrão, interessados em assumir o comando da pasta, que tem um dos maiores orçamentos da União, contribuiu para a queda de Pazuello.

Grande parte desse grupo apoiava o nome da médica Ludhmila Hajjar. Ela chegou a receber apoio público de Lira, que exaltou a "capacidade técnica e de diálogo político com os inúmeros entes federativos e instâncias técnicas" da profissional. No dia seguinte, no entanto, Hajjar anunciou a recusa por "divergências técnicas".

Horas depois, Queiroga foi confirmado no ministério. Bolsonarista, o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) não tem ligação com um grupo político específico. Ele, porém, é próximo do filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), que teve peso determinante na decisão. Queiroga também teve o aval do senador Ciro Nogueira (PP-PI)

Ramos afirmou que não conversou com Lira sobre o assunto, mas disse acreditar que o presidente da Câmara e líder do Centrão está "contrariado" por causa do "conjunto da obra" do Ministério da Saúde.

Limite

A principal "linha vermelha" para Queiroga, no diagnóstico de Ramos, será a vacinação contra a covid-19. Se o processo não for acelerado, o ministro perderá respaldo político do Centrão. "Ele começa com todo o apoio e com toda a torcida para que dê certo. Pelo bem do país. Se errar, serão outros milhares de brasileiros mortos", disse o parlamentar.

Ramos destacou, ainda, que o presidente da República não tem aval do grupo para agir na contramão de protocolos sanitários. "Bolsonaro nunca teve apoio do Centrão para promover aglomerações, negar o uso da máscara ou a gravidade da pandemia", sustentou.

Para o deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP), o presidente optou por decidir sozinho sobre a escolha do novo ministro, sem ouvir o Congresso, e, agora, terá de arcar também sozinho com a responsabilidade. "Ele (Bolsonaro) perdeu a chance de dividir essa responsabilidade. Se o ministro acertar, ótimo. E se errar? Se aceitar as interferências (de Bolsonaro) e o país entrar em colapso?", questionou Pinato.

O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), disse que achou "muito boa" a escolha de Queiroga.

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Em defesa do novo ministro

Fernanda Strickland*

17/03/2021

 

 

O deputado Doutor Luizinho (PP-RJ) acredita que o principal desafio do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, será unificar o país, dar à população a sensação de que o governo federal atuará para conter a pandemia e fazer a imunização em massa. Ele frisou que o ex-ministro Eduardo Pazuello também assumiu a pasta, no ano passado, num momento muito grave. "Nós vivíamos, talvez, um dos picos da pandemia, tinha muito problema com insumos, materiais, medicamentos, respiradores. Mas nós tínhamos uma vacinação pela frente e, de alguma forma, isso não vem evoluindo bem. É óbvio que o mundo tem problemas de fornecimento de vacinas, porém, precisamos dar um passo à frente", afirmou, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.

O parlamentar comentou que o Brasil tem cultura de vacinação, com o Programa Nacional de Imunização (PNI). "Em uma pesquisa recente, no mundo, o brasileiro é a população que mais têm expectativa de ser vacinada. Cerca de 89% da nossa população espera receber a vacina. Vamos ajudar, no Congresso Nacional, o doutor Marcelo Queiroga, para que ele faça uma gestão eficiente à frente do Ministério da Saúde", frisou.

Para Doutor Luizinho, é preciso aconselhar o presidente Jair Bolsonaro e apoiar o novo ministro, para que sejam tomadas medidas necessárias. "A questão de distanciamento social, lockdown, o país é continental. O que está valendo aqui para o Distrito Federal, que vive hoje uma circulação viral muito forte, com número novamente de casos de óbitos muito grande, não vale para o estado do Rio de Janeiro, que ainda não enfrentou da mesma maneira", argumentou.

De acordo com o deputado, independentemente das posições do presidente Jair Bolsonaro, o governo federal tem de adotar um posicionamento claro em relação à pandemia. Ele mostrou-se contrário à estratégia do chefe do Executivo de fazer apologia de medicamentos sem comprovação científica contra a covid-19. "A questão da cloroquina está superada. Nós não podemos achar que, no Brasil, foi descoberta uma solução que o mundo não vem adotando, se ela fosse totalmente eficaz, todo o planeta teria usado cloroquina", ressaltou.

*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa