Correio Braziliense, n.21115 , 17/03/2021. Brasil, p.5

 

Fiocruz defende vacina e divulga cronograma

Fernanda Strickland*

17/03/2021

 

 

CORONAVÍRUS » Presidente da Fundação Oswaldo Cruz minimiza suspensão de imunizante da Oxford/AstraZeneca na Europa. Nísia Trindade confirma chegada de lote com 3,8 milhões de doses ainda em março, cerca de 21 milhões em abril e 26,8 milhões em maio

O Brasil bateu no início desta semana a marca de 10 milhões de vacinados, ou cerca de 5% da população. Após países europeus suspenderem o uso da vacina de Oxford/AstraZeneca para investigar a ocorrência de coágulos entre pessoas vacinadas, a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, preocupada com a repercussão lá fora, disse, ontem, em reunião virtual da Comissão Externa da Câmara que acompanha as medidas de enfrentamento à covid-19 que a suspensão do uso na Europa deve ser vista com muita cautela. Vale destacar que a maior parte da produção do imunizante pela Fiocruz começará a ser entregue ao Ministério da Saúde a partir deste mês.

Nísia informou, durante a videoconferência, no dia em que o país voltou a bater recorde de mortes diárias (leia mais abaixo), que o cronograma de entrega de vacinas pela fundação ao Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, prevê 3,8 milhões de doses de imunizantes da Oxford/AstraZeneca em março, cerca de 21 milhões em abril, 26,8 milhões em maio, 27,4 milhões em junho e 21,2 milhões em julho. A partir do segundo semestre, com a incorporação da tecnologia de produção da matéria-prima da vacina, a Fiocruz se comprometeu a entregar mais 110 milhões de doses, com produção 100% nacional.

"É importantíssimo dizer que faz parte da cautela essa avaliação de todas as vacinas. Nós, na Fiocruz, temos ampla experiência com esse tipo de farmacovigilância e frisamos que tanto a agência europeia EMA quanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendaram a interrupção da vacinação", disse. De qualquer forma, acrescentou: "São cautelas dos países que, naturalmente, têm que ser não só respeitadas, mas observadas".

Segundo a AstraZeneca, teriam sido relatados, até 8 de março, 15 eventos de trombose venosa profunda e 22 eventos de embolismo pulmonar. A investigação da farmacêutica, referente à vacinação de mais de 17 milhões de pessoas na União Europeia e Reino Unido, não demonstrou evidência de aumento do risco de eventos trombóticos para qualquer faixa etária, gênero ou lote de vacina de determinado país.

A defesa da continuidade da vacinação também foi reiterada ontem pela OMS. Segundo o cientista-chefe da Organização, Soumya Swaminathan, nenhuma relação causal foi demonstrada entre a vacina e relatos de coágulos sanguíneos até o momento. Ele destacou, também, que "a taxa de eventos reportados é, na realidade, menor do que a que se esperaria na população em geral", independentemente da vacina.

Tanto a OMS quanto a agência reguladora europeia, que funciona como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), defendem a continuidade da aplicação da vacina. Para Nísia, a suspensão é temporária e ocorre enquanto "são avaliados os eventos adversos relacionados com cautela, como precaução, diante da vacinação". Mas reforçou: "Quanto mais vacinarmos, menos risco de desenvolvimento de novas variantes e mais proteção nós teremos, inclusive, em relação a esse aspecto que é comum aos vírus".

Ciclo comum

Julival Ribeiro, médico infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que, quando se chega à fase quatro, na qual já se está vacinando a população em massa, como em qualquer imunizante consegue-se detectar alguns efeitos adversos. "Observamos, por exemplo, que, quando a Pfizer começou a fazer sua vacina, teve alguns efeitos colaterais. Alguns efeitos ocorrem quando você está aplicando a vacina em massa".

Em comunicado divulgado ontem, a Anvisa recomendou a continuidade do uso da vacina de Oxford, por considerá-la segura. "Nas bases nacionais que reúnem eventos com vacinas, não há registros de embolismo e trombose que tenham relação com as vacinas contra a acovid-19", destacou.

A Fiocruz aguarda a conclusão das investigações dos casos relatados e reforça os posicionamentos adotados pela Anvisa, EMA e OMS até o momento, bem como a importância da vacinação, reafirmando seu compromisso com a farmacovigilância da vacina no Brasil.

* Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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MEC pede prioridade

17/03/2021

 

 

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, pediu ao novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que o governo dê prioridade para a vacinação contra a covid-19 de cerca de 3 milhões de professores para que as aulas presenciais possam ser retomadas o mais rapidamente possível. Ribeiro, que foi pessoalmente ao Ministério da Saúde, ontem, falou tanto com Queiroga quanto com o general Eduardo Pazuello, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. No entender do chefe da pasta da Educação, além dos professores, todos os profissionais que atuam nas escolas, como merendeiras, porteiros, seguranças escolares, também devem ter prioridade na vacinação.

Segundo o ministro, o pedido atende à demanda do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

Promessa de rapidez

Ele destacou que a meta é de que a imunização dos professores e de demais profissionais da educação ocorra ainda em abril, no máximo, início de maio. "São mais de 70 milhões de alunos à espera da retomada das aulas presenciais". Segundo Ribeiro, esse pedido foi feito pelos secretários estaduais de Educação. A primeira requisição para prioridade na vacinação dos professores foi feita em outubro de 2020, mas não houve resposta por parte da Saúde. "Agora, vim reforçar o pedido", disse.

Representantes do Ministério da Saúde afirmaram a Ribeiro que o pedido está sendo analisado e uma resposta será dada em breve. "Cabe ao Ministério da Educação fazer o pedido. Sabemos que todo mundo precisa ser vacinado, mas temos entre 2,5 milhões e 3 milhões de professores que precisam ter prioridade", ressaltou.