Título: Fila no bufê e bobó de camarão
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, País, p. A2

BRASÍLIA - As mudanças na diplomacia brasileira, rumo à democratização, chegaram também à mesa. Este ano, o Itamaraty substituiu o serviço de atendimento à francesa, característico dos almoços e jantares formais, pelo sistema americano, mais conhecido como bufê. Não foram poucos os que torceram o nariz, alegando que estava decretado o fim de uma era de glamour. O fato, no entanto, é que a novidade está fazendo o maior sucesso.

A alteração, por sinal, também foi adotada este ano no Fórum Econômico Mundial, que terminou ontem, em Davos. As principais autoridades do planeta tiveram de entrar na fila, de prato na mão, para se servir de comida. Não consta que algum líder tenha reclamado da nova prática.

- Acho o sistema prático e muito democrático. Além disso, me permite provar um pouquinho de cada coisa - afirmou o vice-presidente mundial para a América Latina do Grupo Santander, Francisco Luzón, no Itamaraty, durante um almoço na semana passada em homenagem ao primeiro ministro da Espanha, José Luiz Zapatero, que esteve no Brasil para encontrar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Não apenas o sistema vem recebendo elogios, como também o próprio cardápio que, por recomendação de Lula, incluir necessariamente comida típica brasileira. Camarão pitu à baiana, balaio de carne de sol com manteiga de garrafa e bobó de camarão estão entre as iguaria de maior sucesso.

O professor José Flávio Sombra Saraiva, da Universidade de Brasília (UnB), defende estas pitadas de brasilidade no cardápio, nos modos e nos costumes da diplomacia.

- Insistir na reprodução de maneiras das metrópoles européias faz parte do histórico complexo de país colonizado que o Brasil possui. Felizmente, precisamos cada vez menos de cerimoniais imperiais para sermos respeitados - comenta José Flávio Saraiva.