Título: Câmara caminha para manter tradição
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2005, País, p. A5

Partidos do governo e da oposição começam a chegar ao consenso de deixar com o PT a cadeira de presidente da Casa BRASÍLIA - A tese de que é importante manter a tradição na escolha do presidente da Câmara ganhou força na última semana. Aos poucos, os partidos aos poucos chegam a um consenso de entregar a chefia da Casa ao PT, que indicou o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). O ocupante da cadeira tem o status de terceiro homem na linha sucessória.

Até adversários do governo, como o coordenador da bancada do Sul, Alceu Collares (PDT-RS), defendem esta idéia. Um ministro do governo acredita que vai prevalecer o princípio da proporcionalidade. Para ele, os parlamentares optarão pela segurança dos acordos:

- A quem interessa essa anarquia? A ninguém. O Congresso é acima de tudo uma Casa de acordos. Se esse princípio for violado, não se sabe o que ocorrerá daqui pra frente - diz.

Apesar disso, a retórica dos líderes das bancadas é dúbia, pois existe a versão de que os petistas têm dois candidatos. O outro seria Virgílio. Na prática, essa tática dos partidos ou blocos visa a pressionar a base do governo por mais espaço no debate de projetos e na Mesa da Câmara.

É exatamente isso que está negociando a bancada do agronegócio, também conhecida como ruralista. Um dos coordenadores do debate é o deputado gaúcho Luis Carlos Heinze (PP-RS). Ele aceita uma composição com Greenhalgh desde que em algumas condições. A primeira delas seria o PT aceitar para a primeira secretaria o deputado Waldemar Moka (PMDB-MS), que tem o apoio da Comissão de Agricultura, onde estão projetos de extremo interesse dos fazendeiros, como a renegociação de dívidas com a União.

Outra ponta desse jogo será a feitura de uma lista de temas em pauta no Congresso, onde o lobby dos produtores tem pesada influência. Encabeça a agenda a aprovação da Lei de Biossegurança, em fase final de votação. Entre outros artigos, há o que libera a plantação de transgênicos. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), firmou um compromisso de que o texto terá prioridade nas votações. Tem o aval do Planalto, que fez do plantio de soja transgênica uma política.

Por outro lado, os ruralistas avisaram também o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que o nome de Greenhalgh ainda não venceu todas as resistências. O ministro foi encarregado por Lula para ajudar o petista no diálogo com a bancada rural. Articulado, o grupo tem na ponta do lápis 110 votos dos 513 deputados.

Greenhalgh é visto com antipatia pelo agronegócio devido a sua ligação com os sem-terra. Mas diz que está negociando com todos os partidos. Após o PT ter deixado claro que só tem um candidato, os ruralistas dizem que vão apresentar a plataforma ao adversários do petista.