Título: Câmara decide hoje sobre sindicância
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2005, País, p. A6
BRASÍLIA - O corregedor da Câmara, deputado Luiz Piauhylino (PDT-PE), decide hoje se instaura uma sindicância para apurar a chamada Operação Locadora, do PMDB. A manobra, que já filiou ao partido sete deputados ligados ao ex-governador e secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho, prevê a filiação de mais 15 parlamentares, com mo objetivo de fazer maioria dentro da sigla para eleger o deputado oposicionista Saraiva Felipe (MG) como líder na Câmara no lugar de José Borba (PR), ligado ao Planalto, além de declarar apoio a Virgílio Guimarães (PT-MG), candidato à presidência da Casa.
O pedido de investigação, subscrito pelo deputado Wilson Santiago (PMDB-PB), foi encaminhado na manhã de sexta-feira à Corregedoria pelo presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP).
- Darei um despacho à luz do Código de Ética - prometeu Piauhylino .
A exemplo de Wilson Santiago, nesta semana o líder do PP, deputado José Janene (PR), também deve protocolar na Secretaria Geral da Mesa Diretora da Casa um pedido de abertura de inquérito para apurar se houve cooptação de deputados do seu partido por parte de Garotinho. Dois dos parlamentares do PP fluminense - Dr. Heleno e Alexandre Santos - deixaram a sigla para se aliar ao grupo de Garotinho.
- É enojante. O assédio é de um tamanho que eu nunca vi antes - lamentou Janene.
A expectativa no governo Lula é pela abertura da investigação. O pedido de sindicância foi articulado na semana passado pelo Palácio do Planalto e pela ala governista do PMDB com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A preocupação do governo é de que, além de engrossar o coro pela candidatura de Virgílio Guimarães, a manobra possa produzir um pólo de resistência ao governo na Câmara.
O movimento está sendo chamado internamente no partido de Operação Locadora porque, pelo acordo, os deputados filiados poderiam, se julgassem conveniente, retornar aos seus partidos de origem em 45 dias, depois da eventual eleição de Saraiva Felipe e Virgílio. Seriam apenas ''locados''. Uma benesse - cargo ou verba - também poderia fazer parte do acordo. Com a chegada dos novos deputados - Deley (ex-PV-RJ), Dr. Heleno e Alexandre Santos (ambos ex-PP-RJ) e os ex-PSC Zequinha Marinho (PA), Cabo Júlio (MG), Carlos William (MG) e Pastor Amarildo (TO) - o PMDB deve registrar mais de 40 votos a Virgílio.
Amanhã, o candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh, e a bancada petista almoçam com 46 deputados federais do Rio, numa tentativa de neutralizar à ofensiva de Garotinho junto à bancada carioca. Greenhalgh se diz contrário a qualquer punição a Virgílio, defendida por alguns setores do PT. A tese que já havia sido levantada no partido, ganhou força nos últimos dias com a entrada de Garotinho na campanha de Virgílio.