Título: Xiitas cantam vitória
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Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2005, Internacional, p. A7

BAGDÁ - Um dos principais dirigentes da lista de candidatos xiitas às eleições iraquianas disse ontem estar confiante de que a aliança conquistou a maioria dos 275 votos na Assembléia Nacional, que vai escolher o futuro governo do Iraque e redigir uma nova Constituição para o país.

Ammar al Hakim, do Conselho Supremo pela Revolução Islâmica no Iraque (CSRII), integrante da Aliança Iraquiana Unida, disse que o partido tinha, como previsto, obtido bons resultados nas eleições.

- Segundo as nossas pesquisas de opinião, vencemos em todas as províncias - afirmou Al Hakim. - A lista da Aliança Iraquiana Unida teve uma vitória avassaladora.

Hakim é filho do líder do CSRII Abdul Aziz al Hakim, que encabeça a lista de candidatos da aliança.

O aiatolá Ali al Sistani, principal clérigo xiita iraquiano, emitiu uma fatwa (decreto religioso), exigindo que os fiéis votassem na eleição, o que foi obedecido em massa pelos seguidores.

Em Najaf, uma dos principais redutos xiitas, uma salva de tiros saudou o fechamento dos colégios eleitorais. Na cidade, a eleição foi marcada pelo comparecimento - que alcançou 90% dos eleitores - e pela a ausência de atentados.

Os curdos também compareceram maciçamente às urnas em um ambiente calmo, mas repleto de entusiasmo. Segundo as estimativas da Comissão Eleitoral Independente (CEI), o comparecimento às urnas nas três províncias autônomas curdas (Dohuk, Erbil e Suleimaniya) beirou os 90%.

Na cidade de Kirkuk, a qual os curdos reivindicam como a capital virtual do Curdistão, o ambiente foi marcado por tensão. Segundo testemunhas, as medidas de segurança foram rígidas, em especial para conter as rivalidades étnicas da região. O comparecimento em Kirkuk também foi alto.

Hoshiar Zebari, ministro do Exterior do governo interino e membro do Partido Democrático do Curdistão (KDP), disse que o Iraque viveu uma ''festa nacional'' e previu que os curdos terão forte representação no parlamento, algo entre 75 e 85 cadeiras do total de 275.

Nas regiões sunitas, os centros de votação estavam praticamente desérticos, já que a principal associação religiosa da comunidade pediu o boicote às eleições e a guerrilha ameaçou os eleitores de morte.

O boicote foi notado principalmente em Al-Anbar e Tikrit, reduto de Saddam Hussein, onde só as tropas iraquianas saíram às ruas.

Em Samarra, as ruas estavam vazias, e o prefeito Taha Hussein, com problemas de segurança, declarou nas primeiras horas da votação que ''não haveria eleições''. Em alguns postos eleitorais não havia sequer funcionários.