O Globo, n.31987 , 05/03/2021. Mundo p.22

 

 

Papa faz visita ao Iraque em meio à violência e à pandemia

Filipe Barini

05/03/2021

 

 

Viagem histórica é a primeira de um Pontífice ao país e ocorre dias após ataque com mísseis a base militar

Ao pousar no aeroporto internacional de Bagdá hoje, o Papa Francisco iniciará uma das mais importantes, controversas e arriscadas viagens de seus oito anos de pontificado. Na agenda, visitas alocais de massacres de cristãos,líderes islâmicos e um olhar sobre as origens bíblicas das maiores religiões do mundo. Ao mesmo tempo, o momento da viagem, em meio à pandemia do novo coronavírus, e as questões de segurança podem se sobressair mais do que gostaria o Vaticano.

O caminho de Francisco começa pelo bairro bagdali de Karrada, na Catedral da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde 58 pessoas2010 em uma taque da rede terrorista al-Qaeda. Amanhã, em Najaf, e lese encontrará como aiatolá AlialSis tani, umadas principais lideranças xiitas no mundo árabe. Ao longo de seu pontificado, Francisco se aproximou de nomes influentes no islamismo, incluindo o imã da Mesquita de al-Azhar, no Egito, um dos mais importantes centros de estudos do Islã.

Um dos grandes momentos será a ida à cidade histórica de Ur: pela tradição bíblica, ali nasceu Abraão, apontado como o patriarca das três maiores religiões monoteístas do mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo. Francisco vai orar com representantes de comunidades religiosas minoritárias, como os yazidis.

‘VOU COMO PEREGRINO DA PAZ’

No domingo, o Papa visitará a província de Nínive, no Norte iraquiano, parcialmente dominada pelo Estado Islâmico até 2017. Em sua capital, Mossul, milhares de cristãos foram mortos pelos extremistas, que também destruíram algumas das centenárias igrejas da cidade. Ali, prestará uma homenagem às vítimas da violência religiosa. Ontem, Francisco enviou uma mensagem pregando a reconciliação no país.

“Vou como peregrino (...) implorar ao Senhor perdão e reconciliação após anos de guerra e terrorismo (...) evou a vocês como um peregrino da paz”, disse o Pontífice.

Na última escala, no Curdistão iraquiano, haverá uma missa em um estádio de Irbil, cidade que serviu de porto seguro para milhares de pessoas que fugiram do Estado Islâmico. A viagem que deveria ter ocorrido em2020, mas foi adiada por conta da pandemia.

— Toda uma comunidade e todo um país poderão acompanhar essa jornada pela imprensa e saber que o Papa está lá por eles, comum a mensagem de queé possível ter esperançam esmonas mais complicadas situações— afirmou à imprensa o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni.

Lar de uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, o Iraque era o único dos países citados na Bíblia a jamais ter sido visitado por um Papa. No final dos anos 1990, João Paulo II esteve bem perto de fazer essa jornada, que acabou não se realizando. Hoje, 18 anosa pós aqueda d eS ad dam Hussein, Francisco encontrará um paísm ais in teg rad oà comunidade internacional, mas com sérias questões sociais.

A preocupação central é a segurança. A guerra civil que se seguiu à invasão americana, em 2003, e, mais recentemente, a ofensiva do Estado Islâmico, ainda se fazem sentir. Os atentados são mais raros, mas fazem parte do cotidiano: no final de janeiro, uma explosão em Bagdá matou 32 pessoas. As disputas entre milícias são uma constante.

SÓ 50 MIL VACINAS

Um dos aeroportos usados por Francisco, o de Irbil, é alvo de foguetes e, na quarta, dez projéteis caíram na base de Ain alAssad, usada por militares dos EU Ano país. O esquema de segurança para a visita envolve 10 mil agentes.

Outro ponto importante é o sanitário: o Iraque acumula 700 mil infecções e 13 mil mortes por coronavírus, e está no meio de uma segunda onda da doença, com toque de recolher nacional das 20h às 5h, de segunda a quinta, e restrições de sexta a domingo.

O Pontífice e sua comitiva já se vacinaram, mas as primeiras 50 mil doses da vacina doadas pela China, chegaram só na terça-feira.

—Foram tomadas todas as precauções de saúde, mas talvez a melhor forma de interpretar a viagem é como um ato de amor. Por esse povo, pelos cristãos. E todo ato de amor pode ser interpretado como um gesto extremo —afirmou Bruni.