O Globo, n.31984, 02/03/2021. Sociedade, p.9
Conass defende ainda Iockdown onde houver UTIs lotadas; em resposta, governo federal diz que estados têm 'autonomia'
PAULA FERREIRA
paula.ferreira@infoglobo.com.br
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defendeu ontem que haja endurecimento de medidas de restrição, com toque de recolher nacional das 20h às 6h, incluindo fins de semana. Em nota, os gestores pedem ainda o fechamento de praias e bares, e que as autoridades instituam barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerando inclusive “fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual”. Eles defendem o nível máximo de restrição, ou seja, lockdown, em regiões com mais de 85% de ocupação de leitos.
Após a divulgação da carta pelo Conass, o Ministério da Saúde divulgou nota afirmando que estados e municípios “têm autonomia” para definir suas próprias medidas.
Ontem, levantamento do GLOBO mostrou que 17 estados brasileiros e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de 80% ou mais nas UTIs da rede pública para Covid-19. Mais de 34 mil pessoas estão internadas com a doença em leitos de enfermaria e UTI do Sistema Único de Saúde (SUS), um crescimento de aproximadamente 18% em relação aos dados da última sexta-feira.
O aumento no número de casos e mortes alarmou gestores, que consideram este o momento mais grave da pandemia no país desde seu início, há um ano. No comunicado, os secretários criticam a “ausência de uma condução nacional unificada e coerente”. Defendem, também, o endurecimento das medidas de restrição, levando em conta “a situação epidemiológica e capacidade de atendimento de cada região, avaliadas semanalmente a partir de critérios técnicos”. No caso de regiões com mais de 85% de ocupação de leitos, o Conass afirma que é o caso de restrição máxima.
Para conter o cenário de agravamento da doença, os gestores defendem que haja suspensão de atividades educacionais presenciais e sejam proibidos eventos presenciais como shows, congressos, atividades religiosas e esportivas em todo território nacional. Argumentam também que é preciso haver um pacto entre os Poderes e determinação legislativa do Congresso.
REUNIÃO COM ARTHUR LIRA
O GLOBO questionou o Ministério da Saúde sobre o comunicado dos secretários e perguntou se ele pretende adotar as recomendações, mas a pasta afirmou que cada região pode tomar a decisão de acordo com seu contexto:
“Cabe reforçar, ainda, que estados e municípios têm autonomia para definir a organização local de acordo com a necessidade e situação epidemiológica de cada região.”
Hoje, os governadores terão uma reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com a intenção de alinhar questões relacionadas ao combate à pandemia.
Colaboraram Raphaela Ramos e Ana Beatriz Moda, estagiária sob supervisão de Eduardo Graça.