Título: Atenção para o continente
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2005, Economia, p. A17

A busca por mercados não é apenas uma tarefa para empresas interessadas em expandir negócios. A participação ativa do governo é essencial e, neste sentido, Carlos Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas e ex-presidente do Banco Central, critica a demora na aprovação do acordo para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

- É verdade que a questão não está parada apenas por culpa do Brasil, mas também pela postura americana, que se recusa a negociar acordos em relação a subsídios agrícolas para não prejudicar demandas pendentes na OMC - pondera.

De acordo com Langoni, para sustentar crescimento de 10% no fluxo comercial por dez anos seguidos, o Brasil precisa tomar medidas como redução de tarifas.

- Temos que entender que o Brasil não pode apenas depender de um cenário internacional positivo - argumenta.

José Augusto de Castro, da AEB, afirma que uma das medidas necessárias para manter um fluxo crescente de comércio é a busca por mercados vizinhos. O principal exemplo do sucesso com vendas próximas é a Argentina, que em 2004 manteve o posto de segundo maior comprador na balança brasileira, com US$ 7,4 bi. De 1990 a 2003, os produtos brasileiros pularam de 15,8% do total comprado pelos ''hermanos'' para 33% em 2003, a ponto de setores da economia da Argentina incentivarem a redução do que chamam de ''Brasil-dependência''.

Mas a pouca penetração dos produtos brasileiros na América do Sul é criticada por Castro. Se as compras de produtos brasileiros por parte dos países do Mercosul pularam de 19,5% do total comprado por Argentina, Paraguai e Uruguai em 1990 para 31,4% em 2003, os percentuais caem drasticamente quando os demais países do continente sul-americano são incluídos: de 7,9% em 1990 para 12,9% em 2003.

- Existe espaço para vender e, se não ocuparmos este espaço, os chineses vão acabar consolidando posição aqui, como fizeram nos Estados Unidos - afirma Castro.