Título: Diversificação em xeque
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2005, Economia, p. A17

Analistas dizem que Brasil deveria dar mais atenção ao mercado americano, maior comprador de manufaturados do país As exportações brasileiras experimentam nos últimos anos uma crescente diversificação de destinos. Em 2004, o país elevou as vendas para regiões até então pouco exploradas pelas empresas nacionais. O Sudão, por exemplo, comprou US$ 48,9 milhões em produtos brasileiros, um crescimento de 514,6%. Expressivos avanços foram registrados também nas entregas para nações como Ilhas Virgens (+431,7%), Aruba (+427%) e Etiópia (+178,4%). Mas especialistas alertam que, se por um lado a diversificação ajuda a diluir os riscos inerentes ao comércio exterior, por outro, a mudança pode afastar o país dos principais compradores do mercado mundial.

As principais ressalvas são feitas quando debruça-se sobre os dados envolvendo os Estados Unidos, maior economia do mundo e principal comprador dos produtos brasileiros. No ano passado, os americanos compraram US$ 20,341 bilhões de produtos made in Brazil, contra US$ 16,9 bilhões em 2003. A fatia de participação dos americanos no bolo das exportações brasileiras, no entanto, caiu de 23,13% para 21,10%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior.

A mudança, embora saudada como indicativo de redução da dependência do mercado americano, acendeu o sinal amarelo no setor. A trajetória desfavorável do dólar - que voltou a patamares registrados em 2002 - e o comportamento decrescente dos preços das commodities agrícolas chamam a atenção para a necessidade de exportações de produtos manufaturados, menos sensíveis a variações de preços. Neste sentido, o mercado americano oferece maior proteção, pois concentra grande parte das vendas de manufaturados brasileiros.

No ano passado, 28,19% dos produtos manufaturados nacionais foram vendidos para os Estados Unidos, enquanto a União Européia comprou 18,70% no mesmo segmento. Entre os básicos, a participação americana despenca para 6,95% e a da UE dispara para 40,13%.

- As commodities e produtos básicos são mais vulneráveis a variações de preços. As medidas protecionistas também são mais constantes neste segmento - diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). - Além disso, o mercado americano é gigantesco, e pouco explorado por nós.

Segundo a AEB, os Estados Unidos importam US$ 1,3 trilhão por ano, dos quais apenas US$ 20,341 bilhões do Brasil, principalmente em calçados, automóveis, aviões e celulares.

- Ainda somos inexistentes para eles. O Brasil tem uma boa entrada na Costa Leste americana, enquanto na Costa Oeste a presença dos nossos produtos é muito baixa. E na Costa Oeste está a Califórnia, cuja economia é maior que a do Brasil inteiro. Precisamos de uma política mais agressiva de promoção - ressalta Castro.

O vice-presidente da AEB, no entanto, não descarta a importância de lutar por vendas mais significativas de manufaturados para a União Européia. No ano passado, o bloco adquiriu 25% de tudo que o Brasil vendeu.

- Atacando os mercados europeus com eficiência, poderíamos vender muito mais manufaturados, pois se vendemos para os EUA, venderíamos para a Europa - garante.

Para Roberto Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), o Brasil deveria privilegiar a diversificação para países com economias grandes, como Índia e Rússia, que tem demanda por produtos já fabricados no país.

- Muitas vezes os novos mercados são restritos, os negócios são limitados, e deixamos de realizar boas vendas. Precisamos atacar os mercados certos - ensina.