Título: Consumidor do Bric vai resgatar o mundo
Autor: Mellor, William; Lim, Le-Min
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2008, Tema do Dia, p. A4
Jim O¿Neill, do Goldman Sachs, aposta na bonança
William MellorLe-Min Lim
BLOOMBERG NEWS
Talvez a maior esperança de manter a economia mundial em crescimento esteja em pessoas como Wei Yufang. Camponesa que trabalha em um pequeno pedaço de terra ao lado do lamacento rio Huaihe, na China central, Wei tem um sonho modesto: comprar um aparelho de ar-condicionado, para aliviar a sua família do calor e da poeira que, a cada verão, envolvem a aldeia de Xiaogang (Pequena Colina), na Província de Anhui.
Com a recessão em muitas economias, inclusive nas dos EUA e do Japão, Wei e outras 2,8 bilhões de pessoas no Brasil, Rússia, Índia e China podem prover a demanda do consumidor necessária para combater a crise.
Jim O¿Neill, economista do Goldman Sachs Group ¿ que, em 2001, cunhou o acrônimo Bric com as iniciais dessas quatro grandes economias emergentes ¿ diz que o crescimento rápido que os investidores passaram a esperar desses países vai sobreviver à crise. Para O¿Neill, os cidadãos do Bric estão prontos para gastar mais
¿ O consumidor do Bric vai resgatar o mundo ¿ aposta.
As autoridades da China estão fazendo a sua parte nesse sentido. O enorme plano de incentivo econômico, de 4 trilhões de iuan (US$ 586 bilhões) revelado em 9 de novembro, sinalizou a sua intenção de estimular o consumo interno, de forma a ajudar a contrabalançar a redução no consumo dos países desenvolvidos para os produtos de exportação chineses.
A liderança econômica desses países não fazia parte da situação em 1997 e 1998, quando a desvalorização cambial e o excesso de endividamento levaram a Ásia e a Rússia a uma crise. Na ocasião, o mundo olhava principalmente para os EUA em busca de sinais de uma reação.
O programa de incentivo econômico da China, de dois anos, prevê gastos com habitação, estradas, ferrovias e aeroportos; deduções de impostos para empresas que investirem em equipamentos novos e subsídios para produtores rurais.
Equivalente a cerca de 16% do PIB anual da China, esse plano ofusca o programa de incentivo de US$ 168 bilhões dos EUA este ano, que representa cerca de 1% do PIB americano.
Varejo oriental
Como um grupo, os consumidores chineses não superam os americanos em gastos, mas os seus desembolsos estão crescendo. As vendas no varejo na China saltaram 22% em outubro. Em contraste, as compras realizadas pelos americanos caíram no terceiro trimestre, pela primeira vez em sete anos.
¿ Desde outubro de 2007, apenas o consumidor chinês vem contribuindo mais para a expansão do PIB mundial que o consumidor americano ¿ disse O¿Neill.
As economias dos quatro países do Bric estão, de modo geral, tendo um desempenho melhor do que o previsto por O¿Neill no relatório de novembro de 2001. Ele estimou que representariam 10% da produção econômica mundial até 2010. Elas já consistem em mais de 15%.
Os responsáveis pelas previsões da Merrill Lynch compartilham desse entusiasmo.
"Os países do BRIC podem contribuir para a estabilização da economia mundial?", perguntou uma equipe da Merrill especializada em economia global, em um relatório divulgado recentemente. "Achamos que sim".