O Globo, n.31988 , 06/03/2021. Sociedade p.9

 

MEC indica militar sem experiência em educação para cuidar do Enem

06/03/2021

 

 

Coronel Alexandre da Silva é o quinto a ocupar cargo no Inep em dois anos

A indicação do coronel da Aeronáutica Alexandre Gomes da Silva para a diretoria que cuida do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) causou surpresa e apreensão nos servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) devido à falta de experiência do militar na área educacional. O corpo técnico do órgão teme que Silva tenha sido indicado pelo ministro da Educação (MEC), Milton Ribeiro, para exercer um controle inadequado nas questões do Enem. Silva era assessor parlamentar, lotado no gabinete do ministro, antes de ser conduzido, ontem, ao cargo de diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep. Silva é o quinto nomeado para o cargo em pouco mais de dois anos de governo.

O tempo médio de cada um na cadeira não chega aseis meses. Segundo currículo divulgado pelo MEC, Silva atuou como piloto, investigador de acidentes aéreo sena área de comunicação na Aeronáutica, além de trabalhar no setor de relações institucionais da Presidência da República. Foi também assessor parlamentar do Ministério da Defesa. Tem formação em Ciências Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea, pós-graduação em Segurança da Aviação e Aeronavegabilidade Continuada pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica e especialização em Gestão Estratégicade Pessoas pela Universidade Federal de Minas Gerais. A falta de experiência do coronel na área de educação, sobretudo em uma diretoria responsável por avaliações em escala nacional, causa preocupação entre os servidores do Inep. Eles já esperavam um militar para a diretoria, mas previam alguém com algum histórico profissional em gestão escolar. Milton Ribeiro vem se cercando de pessoas ligadas às Forças Armadas, em umar e dede apoio no governo. Interferências no Enem passaram a ser um ponto de preocupação na Diretoria de Avaliação da Educação Básica do In epdes de a vitória dop residente Jair Bolsonaro nas eleições. Logon o início doresidente do In ep, Marcus Vinicius Rodrigues, formou uma comissão para inspecionar itens do Enem 2019, que “desaconselhou” o uso de 66 questões na prova.

O primeiro nomeado pelo governoBol sonar opara a diretoria do In eprespon sável pelo E nem foi o economista Murilo Resende, que ficou apenas dois dias no cargo. Ele chamou professores de “manipuladores” e “gente que não quer estudar”, e as declarações tiveram repercussão negativa. O segundo indicado foi o economista Paulo César Teixeira, que ficou pouco mais de um mês na função. Ele deixou o posto por solidariedade ao então chefe, Marcus V in ici us Rodrigues, demitido dap residência do Inep pelo ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez. A diretoria ainda foi ocupada por Francisco Garonce, demitido após quebrar o protocolo de segurança do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), epelogeneral da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, que morreu vítima da Covid-19. Silva o substituirá.

O cargo ocupado por Silva seria mais um motivo de desgaste na relação de Ribeiro com o agora ex-presidente do Inep Alexandre Lopes, que defendia um perfil mais técnico para o posto. Mais problemas são apontados por interlocutores da pasta, como a insatisfação do ministro com mudançaspropostas por Lopes no sistema de avaliação do ensino superior e a abstenção recorde no Enem 2020.