O Globo, n.31988 , 06/03/2021. Mundo p.18

 

Em crise, Argentina aceita flexibilizar o Mercosul

Janaína Figueredo

06/03/2021

 

 

Governo Fernández deve ceder a pressões de Brasil e Uruguai. Presidentes do bloco se reúnem em Buenos Aires, no próximo dia 26

Enquanto prepara a cúpula para celebrar os 30 anos do Mercosul, no próximo dia 26, o governo do presidente argentino, Alberto Fernández, trabalha para negociar com Brasil, Uruguai e Paraguai a flexibilização do bloco. Ciente de que os governos brasileiro e uruguaio querem a modernização do Mercosul (leia-se reformar regras que o tornam, para alguns especialistas, uma fortaleza protecionista), a Argentina está disposta a ceder em alguns pontos. Romper o Mercosul representaria um custo muito alto para a Casa Rosada.

Em 2020, o PIB do país despencou 10%. E a Argentina ainda lida com o FMI, em razão do acordo selado no governo Mauricio Macri, pelo qual obteve empréstimo de US$ 44 bilhões. Já existe um esboço de proposta para reformar a Tarifa Externa Comum (TEC, cobrada de produtos fora do bloco) elaborado por técnicos do governo Fernández. Flexibilizar a TEC é uma das principais demandas de Brasil e Uruguai, defensores de uma maior abertura comercial. Hoje, a média da TEC está entre 12% e 13%. Segundo fontes argentinas, a proposta preliminar da Casa Rosada é baixar para cerca de 9,2%.

— O Brasil pretende mais, mas a proposta não é desprezível. Ainda não foi discutida, mas é um começo— afirma uma fonte brasileira. Em Buenos Aires, fontes explicam que a redução de tarifas seria para produtos não elaborados no país. Ou seja, seria mantida uma proteção à produção nacional. Já foi apresentada uma lista de produtos aos sócios do bloco, gesto que, segundo os argentinos, mostra a disposição de negociar.

Em Brasília, há expectativa, mas certa desconfiança. O governo Bolsonaro chegará à cúpula com vontade política de dialogar e encontrar consenso. Mas quer fatos concretos.

O ponto mais importante é a discussão sobre a flexibilização da dinâmica do 4+1, que obriga o bloco a negociar acordos comerciais com outros países em conjunto. Brasil e Uruguai querem abrir apor tapara que futuros entendimentos incluam apenas os sócios interessados. Na prática, isso já ocorre. O Mercosul negocia acordo de livre comércio com a Coreia do Sul, e a Argentina não participa da negociação sobre bens e regras de origem.

Recentemente, o clima entre os sócios melhorou. O presidente Jair Bol sonar o confirmou presença na cúpula e pal doà Argen tina na negociação com o FMI.