O Globo, n.31989 , 07/03/2021. País p.10

 

Agora com Bolsonaro, Valdemar reassume PL

Paulo Camppelli

07/03/2021

 

 

Dirigente retomou presidência do partido, que comandou à distância mesmo quando cumpriu pena no mensalão. Sigla já ocupa espaços no governo, mas embarque no projeto da reeleição dependerá da popularidade do presidente

Longe dos holofotes, mas perto do poder, Valdemar Costa Neto reassumiu, sem alarde, a presidência do PL e vem liderando a aproximação do partido com o presidente Jair Bolsonaro — a sigla emplacou nomes na presidência do Banco do Nordeste e na diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O objetivo de impulsionar o crescimento da legenda já começou a ser cumprido: de dois senadores eleitos em 2018, hoje são quatro, com a filiação de Romário (RJ) na semana passada; na Câmara, os 33 deputados viraram 42, o que garante o posto de maior bancada do Centrão, à frente do PP, do presidente da Casa, Arthur Lira (AL). A discrição, tônica do comportamento desde que foi condenado a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão, também é acompanhada pela habilidade em antever os movimentos políticos — hoje com Bolsonaro, Valdemar foi aliado do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Recentemente, contrariando parte da bancada na Câmara, que preferia apoiar o nome indicado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comandava a Casa à época, Valdemar determinou o apoio da legenda à candidatura de Lira, o preferido do Palácio do Planalto. O parlamentar alagoano se sagrou vitorioso, e o PL foi recompensado com a primeira vice-presidência da Câmara. O escolhido por Vadelmar para representar o partido foi Marcelo Ramos (PL-AM), um dos que antes era ligado a Maia.

— Uma característica reconhecida por todos em Brasília é que o Valdemar cumpre acordos, o que é raridade hoje em dia. Todos que vão para o PL sabem exatamente o que vai lhes acontecer —disse Ramos. Presidente estadual do PL no Rio, o deputado federal Altineu Côrtes diz que Valdemar tem “visão privilegiada” e “vai até o fim” nos posicionamentos. Junto ao presidente do partido, Côrtes articulou a filiação de dois senadores do Rio este ano: Carlos Portinho deixou o PSD; Romário, o Podemos. Ao primeiro, Valdemar prometeu a liderança do partido no Senado, posto que um parlamentar do estado não ocupava na Casa desde 2013, quando Francisco Dornelles liderava a bancada do PP. Já ao ex-jogador, insatisfeito no antigo partido por divergências na eleição para a presidência do Senado, foi prometida a legenda para tentar se reeleger.

SIGLA INDICOU VICE DE LULA

Se conduzido por Valdemar o PL é hoje um dos principais partidos de sustentação a Bolsonaro, no passado chegou a indicar, por duas vezes, o vice na chapa de Lula, José Alencar, em 2002 e 2006. Responsável à época pela composição com o PT, Valdemar convidou Bolsonaro a se filiar ao PL este ano — o presidente, que deve definir o destino até o fim do mês, tem outras alternativas à disposição e ainda não definiu para onde vai migrar.

Altineu Côrtes avalia que não há contradição no apoio a duas figuras tão antagônicas como Lula e Bolsonaro. E, apesar dos espaços conquistados nas administrações petistas e no atual governo, nega que o partido faça alianças à esquerda ou à direita em busca de cargos:

— Não acho que seja uma questão de conveniência política. Cada momento é diferente. Quando o partido caminhou com Lula, o governo naquele momento foi um bom governo. Depois veio, infelizmente, o governo Dilma, em que as coisas se perderam. E, no momento atual, acho que precisamos de responsabilidade para ajudar nos projetos e reformas importantes para o país — disse.

Mesmo no período em que cumpriu a pena pelo mensalão, Valdemar manteve o controle do PL — o retorno formal à presidência foi concretizado no fim do ano passado. Marcelo Ramos ressalta que não há “nenhuma restrição judicial”

pesando contra o dirigente, já que, em 2016, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu o indulto após o cumprimento de um quarto da pena. —Quem é democrático não pode achar que quem já cumpriu sua pena está condenado pela vida inteira. Ele voltou a presidir o partido por um pedido nosso, da esmagadora maioria dos filiados — pondera o parlamentar.

CEDO PARA 2022

Apesar do apoio de momento a Bolsonaro — caminho também adotado pelo PTB, de Roberto Jefferson, outro condenado no mensalão, mas cujo comportamento histriônico é o oposto do de Valdemar —, é cedo para dizer se o PL vai endossar o projeto de reeleição no ano que vem. Tudo dependerá da popularidade do atual ocupante do Palácio do Planalto.

—O Centrão até vai no enterro e chora, mas não entra junto na cova—disse um experiente político da sigla.