O Globo, n.31989 , 07/03/2021. Sociedade p.14

 

Governo reduz em 8 milhões previsão de doses para março

Carolina Brígido

Eduardo Bresciani

Dimitirus Dantas

Guilherme Caetano

07/03/2021

 

 

Na pior fase da pandemia, Brasil tem a semana mais letal, com um total que passa de 10 mil mortes nos últimos sete dias

O Ministério da Saúde confirmou uma nova redução na expectativa de entrega de imunizantes para o mês de março. A nova previsão, divulgada ontem pela pasta em novo cronograma, é de apenas 30 milhões de doses, descartando a distribuição de 8 milhões de doses da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech, que nem sequer pediu ainda autorização para uso emergencial à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Na quarta-feira, a pasta ainda previa distribuir esse imunizante e já tinha reduzido a estimativa de doses entregues de 46 milhões de doses para 38 milhões. Na semana mais letal da pandemia, o Brasil contabilizou ontem mais de 10 mil mortos pela Covid-19 nos último sete dias. Também ontem, o país bateu, pelo oitavo dia consecutivo, o recorde da média móvel de mortes: 1.455. Foram registrados ainda 1.498 novos óbitos, elevando para 264.446 o total de vidas perdidas para o novo coronavírus.

PRESSÃO POR DOSES

O governo federal vem sendo pressionado a adquirir mais imunizantes, mas encontra dificuldades para dar ritmo à campanha de vacinação, iniciada em fevereiro. Atrasos na importação do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima para a confecção de vacinas, já provocou a postergação de entrega de doses da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, e da vacina desenvolvida pela Fiocruz junto com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca. Estas são as únicas vacinas já disponíveis no Brasil até agora.

A distribuição das doses previstas para março será iniciada na próxima semana. Segundo nota do Ministério da Saúde, “as previsões de entrega são enviadas à pasta pelos fornecedores dos imunizantes e estão sujeitas a alterações, de acordo com a disponibilidade dos laboratórios e a real quantidade de doses entregues, que pode variar conforme o ritmo de produção dos insumos”. O governo federal prevê distribuir durante o mês 23,3 milhões de doses do Instituto Butantan, enviadas em remessas semanais. Outras 3,8 milhões da vacina da AstraZeneca/Oxford, previstas para a segunda quinzena do mês, serão provenientes do primeiro lote produzido no Brasil pela Fiocruz com matéria-prima importada. Também são esperadas mais 2,9 milhões de doses do mesmo imunizante, adquiridos via consórcio Covax Facility, da OMS. Ao receber as doses, o Ministério da Saúde informou que organizará a divisão de forma proporcional e igualitária aos estados e o Distrito Federal. Posteriormente, os estados são os responsáveis pela distribuição dos imunizantes a todos os municípios brasileiros, que aplicarão as vacinas em 38 mil salas de vacinação.

A lentidão nas negociações da pasta para a compra de vacinas emperra ainda a aquisição de 161 milhões de doses pelo governo federal. A pasta está em tratativas, mas ainda sem fechar contrato, com quatro laboratórios: União Química, Pfizer, Janssen e Moderna. Segundo a pasta, das vacinas contratadas, devem ser entregues 112 milhões de doses pela Fiocruz até julho, enquanto o Instituto Butantan forneceria 100 milhões de doses até setembro. Pelo consórcio da Covax Facility, viriam mais 6,1 milhões de doses até maio, e a previsão é de 42,5 milhões de unidades no total, até dezembro. Em relação à Covaxin, a estimativa é de entrega de 20 milhões de doses no primeiro semestre.

OCUPAÇÃO DE UTI SOBE EM SP

Coma ocupação dos leitos de UTI se aproximando de 80% e 19 hospitais públicos já lotados, o estado de São Paulo começou ontem um período de duas semanas na fase vermelha, amais restrita do plano estadual. Na madrugada de sábado, as Polícias Militar e Civil, o Procon e a Vigilância Sanitária realizaram abordagens em estabelecimentos para evitar possíveis aglomerações, festas clandestinas e pancadões. Foram pelo menos 43 estabelecimentos autuados pordes cumprimento das normas, sete delespor aglomerações. Em uma das ações, interromperam uma festa clandestina na Zona Leste da capital paulista com cerca de 200 pessoas. Segundo do governo de SP, a ocupação de leitos de UTI no estado subiu ontem para 79,46%, um aumento de um ponto percentual em relação a sexta. Na capital, a ocupação dos leitos de UTI reservados para Covid estava ontem em 81,51%. Até esta sexta-feira, pelo menos dez hospitais já estavam sem vagas de terapia intensiva para pacientes com coronavírus. No resto do estado, outras nove unidades de saúde também já estavam lotadas. Os números marcam uma semana em que os casos de Covid-19 explodiram no estado. Em 10 dias, a taxa de ocupação de leitos de UTI na Grande São Paulo saltou de 68,8% para 79,1%. No estado passou de 66,6% para 79,46%. Anteontem, o governador de São Paulo e autoridades da Saúde admitiram que as próximas semanas serão as piores desde o início da pandemia e convocaram voluntários para o que chamaram de “guerra”.