Título: O brasileiro voa muito pouco
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Jornal do Brasil, 07/12/2008, Economia, p. E1

O que pode ser feito?

A política geral do governo ¿ deste e de todos os outros que o precederam ¿ é extremamente restritiva, de um dirigismo fantástico que inibe a capacidade criativa e a liberdade de pensar. Na hierarquia das idéias aqui no Brasil, o mais inteligente é o Lula. Abaixo dele, os ministros com boa inteligência, depois os funcionários públicos com boa inteligência.

Depois dos acidentes da Gol e da TAM, o brasileiro voa com mais segurança hoje?

Sem dúvida.

O que mudou dos acidentes para cá?

O acidente aeronáutico tem como característica ter grande repercussão, mas eu diria, com todo respeito às famílias das vítimas, que o trânsito mata mais do que este total. Mas quando ocorre num avião, vira manchete no mundo inteiro. Comparativamente, o avião é o veiculo mais seguro no mundo. Só perde para o elevador. O único valor do acidente é o que se aprende com ele. E quando se busca os culpados por um acidente perdem-se informações importantes sobre o que aconteceu porque as pessoas querem se defender. Que história é essa de buscar culpados? Aquilo foi um acidente, nenhum piloto quer matar ninguém ou cometer suicídio.

Como o senhor vê os planos de privatização dos 68 aeroportos do país?

Acho ótimo. A legislação brasileira, sobretudo depois do governo militar, começou a se complicar muito e reduzir o poder, a dinâmica governamental de prestar serviços ao cidadão. O governo não tem mais, lei de concorrência pública, fiscalizações enormes que ficam mais importantes que o produto. Temos que admitir que o governo não tem mais a menor condição de prestar serviço diretamente ao cidadão em nenhuma área. O que tem de fazer é flexibilizar as concessões do serviço público e botar tudo na mão do setor privado que tem a dinâmica necessária que a legislação não permite que o governo tenha. Não se trata de competência. É que um está amarrado com legislação extremamente apertada e do outro, o setor pode exercer suas funções com mais agilidade. E com aplausos da população.

Quais as principais necessidades do transporte aéreo hoje?

Hoje precisamos de mais cidades atendidas. As companhias em operação hoje, Gol e TAM, só atendem a 44 cidades. Temos que vascularizar o transporte aéreo do país. O avião concede a matéria-prima mais importante do mundo moderno: tempo. Não podemos prescindir deste modal; ele não se restringe apenas à elite, especialmente em um país gigantesco como o nosso. Não é possível que os americanos transportem 900 milhões de passageiros ao ano e nós não cheguemos nem a 60 milhões de passageiros.