O Globo, n.31990 , 08/03/2021. País, p.4

 

Homens de confiança

Jussara Soares

Daniel Gullino

08/03/2021

 

 

Bolsonaro estimula auxiliares a se lançarem candidatos no ano que vem

De olho nas eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro tem incentivado alguns de seus principais assessores no Palácio do Planalto a lançar candidatos. Três assessores especiais da presidência, que atuam diretamente no gabinete e acompanham Bolsonaro nas viagens, estão sendo incentivados a aumentar sua presença nas redes sociais para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.

O trio escolhido é formado por Tércio Thomaz, que atua na gestão de redes sociais no chamado “Escritório do ódio”; pelo ex-oficial do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) do Rio, Max Guilherme Machado Moura; e pelo tenente do Exército Mosart Aragão Pereira, próximo da família de Bolsonaro no Vale do Ribeira, em São Paulo.

Ao patrocinar seus "homens de confiança", o presidente diz que quer impedir que aliados ocasionais surfem usando seu nome e depois virem as costas. Nos bastidores, Bolsonaro reclama que em 2018 estava rodeado de “oportunistas”. Naquele ano, a onda bolsonarista elegeu 52 deputados federais, quatro senadores, três governadores e 76 deputados estaduais - parte deles rompidos com o atual presidente.

A ideia é repetir o fenômeno do deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ) em 2018. Desconhecido, mas com a credencial de amigo de longa data de Bolsonaro, foi o mais votado no Rio com 345.234 votos. Dois anos antes, ele havia deixado de concorrer a uma vaga no conselho de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e conquistou apenas 480 votos. Atualmente, é visto como um deputado da presidente na Câmara, apresentando projetos de interesse do Bolsonaro.

Lopes apresentou, por exemplo, uma proposta para limitar o nível de cobrança dos exames das ordens dos funcionários do Brasil (OAB). Em sua justificativa citou o presidente, que criticou a obrigatoriedade da avaliação e chamou a prova de “slot”.

As apostas de Andamong Bolsonaro são Tércio Thomaz e Max Guilherme, citados no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga a organização de atos antidemocráticos. O primeiro deve sair candidato pela Paraíba, e o segundo pelo Rio, de olho nos votos dos policiais.

Campina Grande (PB), Tercio chamou a atenção do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) por ter criado a página “Opressor Bolsonaro” e foi convidado a trabalhar com a família. Em 2018, O Globo revelou que ele estava no Gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara dos vereadores enquanto viajava com Bolsonaro

Durante a campanha presidencial. Sem governo, Tercio foi acusado de participar do "Gabinete do ódio", como ficou conhecido um grupo de assessores presidenciais que se dedicariam a atacar os adversários do Bolsonaro.

Acostumado a atuar mais nos bastidores, o Tercio criou em janeiro uma conta no Twitter e um canal no Telegram. Lá, ele divulga discursos e atos do governo de Bolsonaro, e também ataca opositores, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Ele tem 8 mil seguidores no Twitter e pouco mais de 900 assinantes no Telegram.

O Policial Militar do BOPE, Max Guilherme, atuou como segurança do Bolsonaro nas eleições de 2018. Ele foi contratado pelo PSL, ex-partido do presidente. Logo após a eleição, foi concedido pelo PM trabalhar com o Bolsonaro. A atribuição foi renovada em janeiro. Max Guilherme faz parte da delegação do governo que está em Israel para discutir cooperação tecnológica para combater a pandemia.

Já Mosart Aragão deve ser lançado candidato pelos paulistas de olho nas votações do Vale do Ribeira, onde mora a família Bolsonaro. O tenente é amigo de Renato Bolsonaro, que, como seu irmão presidente, é capitão aposentado. Os dois se conheceram no Exército no Guarujá (SP).

E em um show no dia 31 de dezembro, Bolsonaro apresentou Max e Mosart. Em uma curta participação, Max defendeu a exclusão da ilegalidade para os policiais, Antiga equipe do presidente. Em seguida, ele foi substituído por Mosart, que passou o resto da vida ao lado de Bolsonaro, mas quase sem fazer comentários. O presidente disse que em 2016 os dois salvaram dois adolescentes de um afogamento na praia da Barra da Tijuca, no Rio.

SENADO

Para o Senado, Bolsonaro aposta na candidatura para Santa Catarina do secretário especial da Pesca, Jorge Seif, um dos assessores mais frequentes na vida presidencial. Seif já aderiu ao PL, Partido de Valdemar Costa Neto e senador Jorginho Mello, que conta com o apoio do Bolsonaro para contestar o Governo de Santa Catarina. No final do ano, os dois catarinenses estiveram com o Bolsonaro em São Francisco do Sul, no litoral do estado, onde o presidente passou dias de folga. Lá eles discutiram a viabilidade da aliança.

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Sem partido, presidente negocia com DC, PMB E PSC

Paulo Cappelli

Jussara Soares

08/03/2021

 

 

Bolsonaro deve anunciar até o fim do mês sua nova sigla; uma das condições éter controle da executiva nacional e de diretórios

"O tempo é nosso inimigo." Dito pelo presidente Jair Bolsonaro em reunião com seu núcleo político, a frase expressava preocupação pelo fato de ele ainda não ter encontrado um partido para convocar e disputar a reeleição no próximo ano. Sem uma garantia de que poderá ingressar e assumir o controle do Patriota, Bolsonaro autorizou interlocutores a abrir negociações com a democracia cristã (DC), PMN e PSC. Nos próximos dias, o chefe do executivo e o clã vão definir o partido para o qual irão migrar. O anúncio deve ser feito até o final deste mês.

Na semana passada, interlocutores da presidente procuraram José Maria Eymael, que preside o DC.

- Fomos procurados pelos interlocutores do presidente. Acredito que possamos ter uma conversa cara a cara com o próprio presidente nos próximos dias. Bolsonaro e DC podem contribuir muito para a democracia cristã no país - disse Eymael.

No PMN, integrantes da sigla também confirmam que eram procurados. No entanto, as mesmas fontes afirmam que há resistência em entregar o controle do Executivo nacional e dos diretórios estaduais a nomes indicados pelo presidente. Bolsonaro tem pressa em ingressar em alguma Lenda porque avalia que o atraso atrapalha a negociação de alianças para 2022.

Apesar do convite de siglas maiores, como PP e PTB, e da recente votação do PSC, a avaliação do cerne do presidente é que o futuro partidário deve estar em uma pequena legenda. Dessa forma, Bolsonaro ficaria mais fácil de indicar nomes para o executivo nacional e, assim, controlar o partido e garantir que ele tenha espaço para disputar a reeleição. O controle de diretórios estaduais como Rio e São Paulo também é estratégico.

DC e PMN até elegeram deputados federais e estariam mais dispostos a receber parlamentares, PSL e outras lendas, que acompanhariam Bolsonaro. Aliados do presidente acreditam que até 60 parlamentares podem acompanhar o movimento.

Duas semanas atrás, Bolsonaro deu como certa sua filiação ao Patriota. Presidente da lenda, Adilson Barroso participou de um encontro com Bolsonaro no Palácio do Planalto. Acontece que Barroso enfrenta resistências no próprio partido.

Barroso não controla mais a lenda. Em 2018, The Patriot, para cumprir a cláusula contratual, anunciou a fusão com a PRP, controlado por Oasco Resende, que passou de 50% da sigla. Barroso ficou com 30%, e outros 20% estavam nas mãos de parlamentares, atualmente divididos entre aceitar ou não o Bolsonaro. Ovasco, por sua vez, se opôs à saída do presidente para o partido.

No PSC, o deputado André Ferreira (PÉ), que liderou o partido na Câmara em 2020, diz que os dez deputados querem o Bolsonaro de volta. No cerne do presidente, a avaliação é que a filiação dependeria da saída definitiva do pastor Everaldo da presidência do partido. Mesmo preso, ele não demonstrou que pretende abrir mão do comando da lenda.