O Globo, n.31990 , 08/03/2021. Mundo, p.28

 

Em Israel, Araújo é advertido ao esquecer de pôr máscara

Daniel Gullino

08/03/2021

 

 

Chanceler fala em parceria em vacinas e remédios: israelense agradece 'clara posição' do Brasil contra decisão de investigar crimes de guerra em áreas palestinas

Em visita a Israel para discutir cooperação tecnológica para combater a pandemia de Covid-19, o chanceler Ernesto Araújo foi alertado para se esquecer de colocar a máscara para tirar uma foto com seu homólogo israelense, Gabi Ashkenazi. Os dois se manifestaram à imprensa após encontro reservado com a comitiva brasileira, na tarde de ontem.

Ao fazer seus pronunciamentos, tanto Ashkenazi quanto Araújo tiraram a máscara. O brasileiro, porém, não o devolveu após o término de seu discurso e teve que ser avisado pelo mestre de cerimônias na hora da foto oficial:

- Precisamos que seja com a máscara - avisou.

Em foto publicada pelo Itamaraty após desembarque em Israel, os integrantes da delegação brasileira - que inclui os deputados Eduardo Bolsonaro e Hélio Negão, ambos do PSL - usam máscaras. No embarque em Brasília, todos posaram para foto sem os equipamentos de proteção, ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

Após o encontro com Ashkenazi, Ernesto defendeu parcerias no desenvolvimento de "vacinas e medicamentos". Ashkenazi prometeu que Israel "fará todo o possível" para ajudar o Brasil. No entanto, nenhum anúncio concreto foi feito ainda.

O chanceler israelense também agradeceu a “posição clara” do Brasil contra a decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) de investigar possíveis crimes de guerra nos territórios palestinos ocupados por Israel, examinando os dois lados do conflito. Segundo Ashkenazi, a decisão durou semana “distorce o direito internacional e interrompe as negociações de paz com os palestinos”, que estão paralisadas há seis anos.

Israel é líder mundial na aplicação de vacinas contra Covid-19, em termos proporcionais. Mais da metade da população já recebeu pelo menos uma dose do imunizador. O país usa a vacina da Pfizer e não tem produção local do imunizante.

Nas últimas semanas, o presidente Jair Bolsonaro repetiu várias vezes que a viagem da comitiva brasileira a Israel seria para formalizar um acordo para testar no Brasil um spray nasal que já teve seu uso contra o novo coronavírus estudado no país. No entanto, em vídeo publicado no sábado, antes do embarque da delegação, Bolsonaro mudou o tom e disse que a viagem buscará acordos “na área de ciência e tecnologia”, sem citar especificamente o remédio.

 

Em nota de ontem, Araújo reconheceu a liderança de Israel na vacinação e citou “iniciativas interessantes” do Brasil, sem especificar quais, nas pesquisas sobre a pandemia.