Título: Mercado de luxo ignora desaceleração
Autor: Willis, Bob
Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2008, Tema do Dia, p. A4

Alguns consumidores ricos não pararam de comprar porque não dependem do crédito

Sara Gay FordenCotten Timberlake

BLOOMBERG NEWS

A bolsa Birkin de crocodilo preto exposta na butique Hermès SA de Milão era exclusiva, com um fecho cravejado de diamantes e o preço de 150 mil euros (US$ 191 mil). Já havia sido vendida. Em Tampa, estado americano da Flórida, a Gucci vendeu um par de brincos de ouro e topázio por US$ 73 mil, o preço de uma pequena casa nos subúrbios. Ainda nos EUA, a Bottega Veneta vendeu uma bolsa Cabat de crocodilo por US$ 75 mil e um colar de corrente de ouro de US$ 61 mil.

Alguns consumidores ricos continuam a torrar dinheiro em bolsas de couros exóticos, jóias finas e peças feitas por encomenda enquanto os EUA, o Japão e a zona do euro, formada por 15 países, estão em recessão, o que reduz o valor de seus ativos. A compra dos ricos pode oferecer um certo consolo para o setor de bens de luxo, de 175 bilhões de euros, que enfrenta a pior temporada de fim de ano desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Longe da falta de liquidez

A maioria das pessoas que possuem um patrimônio de pelo menos US$ 30 milhões "não enfrenta crises pessoais de liquidez e tem a expectativa de gastar tanto ou mais nesta temporada de festas do que no ano passado", disse Russ Prince, presidente da Prince & Associates Inc. Especializado em pesquisas relacionadas à riqueza particular, ele consultou 518 pessoas, cada uma delas dona de pelo menos um jato.

¿ Elas não estão apertando o cinto por causa de algum tipo de escrúpulo moral ¿ acrescentou Prince. ¿ Não se sentem culpadas por gastar.

Preço não é problema

As vendas de bens de luxo no showroom da Winwood, em Milão, aumentaram 20% este ano, com encomendas e mais encomendas de itens como as bolsas de crocodilo de Nancy González, cujos preços começam em 1.500 euros, disse Morena Zabeni.

¿ As pessoas com dinheiro querem Hermès ou algo que não seja reconhecível.

Kathleen Beckett, que dirige a consultoria de compras pessoais Beckett"s Black Book em Nova York, disse que uma advogada australiana gastou US$ 100 mil este ano em roupas, entre elas modelos de Tom Ford, Alan Flusser e Duncan Quinn. No mês passado, uma advogada finlandesa gastou, em quatro horas, US$ 20 mil em roupas de grifes como Jussara Lee e Shelly Steffee.

¿ Os consumidores ricos vão continuar a comprar luxo ¿ disse Milton Pedraza, principal executivo do Luxury Institute, uma empresa de pesquisa sediada em Nova York. ¿ As pessoas com fortunas de US$ 10 milhões agora têm US$ 7 milhões. É uma queda grande, mas elas têm, mesmo assim, uma quantia significativa de dinheiro.

Crise passa longe

Em Milão, o joalheiro Mario Buccellati vendeu um conjunto de prata feito a mão de US$ 150 mil com um resfriador para champanha para um cliente russo, enquanto um americano encomendou um par de brincos de ouro e diamantes de 90 mil euros para a sua mulher, depois de ver uma foto da jóia na internet.

¿ Qualidade é coisa cara, com ou sem crise ¿ segundo o principal executivo da Gianni Versace SpA, Giancarlo Di Risio, que disse que a edição limitada de um relógio de ouro e diamantes da Gianni Versace Couture, de 140 mil euros, tem uma lista de espera de seis meses.