Título: Vendas de artigos caros sentirão retração da economia em breve
Autor: Willis, Bob
Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2008, Tema do Dia, p. A4
Na verdade, os consumidores mais ricos do mundo podem não contrabalançar o impacto da recessão nas grifes mais caras. As vendas de bens de luxo podem declinar 15% na Europa, que representa quase a metade da receita do setor, no ano que vem, disse a analista Louise Singlehurst, da Morgan Stanley, em um relatório.
Ela previu uma queda de 14% nas vendas nos EUA, de onde as marcas de luxo tiram 16% de sua receita. Os ativos dos ricos podem se contrair este ano, pela primeira vez desde 1996, quando a Capgemini SA começou a monitorar "indivíduos de alto patrimônio líquido", donos de ativos líquidos de mais de US$ 1 milhão, e "indivíduos de ultra-alto patrimônio líquido", disse Ileana van der Linde, que participa da confecção do relatório anual sobre riqueza da empresa.
Antes da crise, ir às compras por bens de luxo era "uma coisa tipo Sex and the City", disse Karina Bignone, decoradora de interiores americana estabelecida em Milão:
¿ Era um momento, psicologicamente, de querer me sentir melhor e ir fazer compras.
Agora, ela compra roupas e acessórios que não estarão fora de moda em uma temporada. Comprou cerca de 2 mil euros em vestidos de Lanvin e Balmain para as festas do fim de ano, sapatos de 600 euros de Jimmy Choo e uma Birkin marrom de 5.500 euros, ao mesmo tempo em que cancelou a festa de 10 anos de aniversário de casamento que daria em abril, porque "não fica bem" enviar os convites.
Sessenta por cento dos entrevistadas pela Prince & Associates "não se importam com o quanto gastam" em bens de luxo, disse Prince. Elas podem reduzir os gastos em artigos como iates e helicópteros, mas "ainda compram o colar de US$ 200 mil para a mulher".
A Yves Saint Laurent vendeu no mês passado duas bolsas de crocodilo Uptown por US$ 19 mil euros e um casaco de marta por 17 mil euros. O Mulberry Group Plc vendeu todas as suas 20 bolsas Ostrich Bayswater, de 2 mil libras (US$ 3 mil) em seis semanas.
Em Moscou, as pessoas continuam a gastar, mesmo depois da queda de 55 % do índice referencial Micex entre setembro e novembro, e de os preços do petróleo bruto, a principal fonte de receita do país com exportações, terem desabado 50% no mesmo período.
A Chanel vendeu uma bolsa branca de couro de jacaré com um fecho cravejado de diamantes por 6,3 milhões de rublos (US$ 225 mil) no mês passado, enquanto a loja de Louis Vuitton vendeu cinco de seis casacos de marta que tinha em estoque, por preços que variavam de 620 mil rublos a 1,1 milhão de rublos. A loja Gum da Vuitton, na Praça Vermelha de Moscou, também vendeu um baú de viagem feito por encomenda pela Louis Vuitton por 610 mil rublos, disse a gerente da loja Vera Zenkovskaya.
¿ A crise não vai atingir aqueles elementos da sociedade que compram essas coisas ¿ disse Zenkovskaya. ¿ É pouco provável que eles economizem. Coisas exclusivas vão continuar a ser vendidas.