Título: Mudança da ESG divide militares
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 06/12/2008, País, p. A12

Para militares, possível transferência da Escola Superior de Guerra para Brasília prejudicaria alunos, e os funcionários que atuam em serviços essenciais no Rio

O governo brasileiro estuda mudar a sede da Escola Superior de Guerra (ESG). A instituição, sediado no Rio de Janeiro desde 1949, deixaria a cidade e seria instalada em Brasília. A iniciativa da proposta é do ministro da Defesa, Nelson Jobim, mas a mudança ainda depende de aval do Palácio do Planalto. Especialistas e militares, contudo, principalmente os cariocas, mostram-se relutantes à idéia. A proposta está na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde setembro.

Jobim e o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, já realizaram diversas reuniões com o presidente sobre o tema, mas a decisão final ainda não foi tomada. A motivação do Ministério da Defesa para tirar a ESG do Rio de Janeiro e levar para Brasília seria uma tentativa de integrar de maneira mais sólida a escola ao conjunto do comando das Forças Armadas e do governo. De acordo com informações do ministério, a proposta inicial é transferir para Brasília apenas a cúpula da instituição. A ESG e seu corpo de funcionários de médio e baixo escalão continuariam a funcionar normalmente no Rio.

Desconforto

Ainda assim, a possível trans- ferência para Brasília causa desconforto entre militares. A preocupação mais evidente com a ESG, órgão integrante do Ministério da Defesa do Brasil responsável por estudos de alto nível nas áreas de Política, Defesa e Estratégia, está centrada numa eventual reestruração e substituição do corpo permanente, tanto administrativo quanto de ensino, de acordo com militares entrevistados pelo JB. O coronel reformado do Exército, Roberto Machado de Oliveira Mafra ­ que em 2004 deixou a ESG após 21 anos de serviços prestados tem opinião forte sobre o assunto.

Conferencista emérito da escola atualmente, o oficial, que também é analista geopolítico, disse que por "várias vezes essa idéia já foi aventada" e classificou a possível transferência da escola como um "ver- dadeiro desastre". - É prejuízo total para a escola, para o Rio e para o Brasil, porque ela já está instalada aqui há 59 anos. Seu nome é uma grife ­ disse o coronel Mafra. ­ A idéia da transferência deve estar partindo de pessoas que desconhecem a escola, seus cursos e sua utilidade para o país. O Rio ainda é a capital cultural do Brasil. Em Brasília, a ESG vai virar uma escola de funcionários públicos e ainda corre o risco de mudar de nome, como também já foi sugerido.

Prejuízos

Ainda de acordo com o co- ronel, uma mudança mais completa também traria prejuízos aos alunos ­ a maioria estagiários vindos de universidades e indústrias de São Paulo.A facilidade de locomoção que os estudantes e conferencistas tem com a escola no Rio não será mais a mesma ­ argumenta. ­ São mais de 100 estagiários do país que entram na ESG todos os anos. A Escola é conhecida e respeitada internacionalmente.Em Brasília, prejudicará nossa imagem. Temos estagiários de vários países nos cursos.

O presidente do Clube Militar do Rio de Janeiro, general reformado do Exército Gilberto Figueiredo, acredita que a transferência da escola pode até trazer algumas vantagens. No entanto, cauteloso, preferiu não expor muito sua opinião. No pouco que deixou escapar, não conseguiu esconder o descontentamento. ­ Desconheço os argumentos e os projetos da transferência, portanto não poderia fazer uma maior análise ­ explicou o general Figueiredo. ­ Em tudo na vida, há vantagens e desvantagens, mas em termos de Rio de Janeiro, será mais um esvaziamento. Aos poucos, o Rio vem perdendo sua referência nacional.