Título: Crítica à manutenção de alta taxa de juros ganha reforço
Autor: Totinick, Ludmilla; Costa, Gabriel
Fonte: Jornal do Brasil, 05/12/2008, Tema do Dia, p. A2

BRASÍLIA

A queda da produção industrial em 0,3% em outubro, confirmada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), reforçou o time de técnicos dentro do governo federal que critica a manutenção da política de juros altos adotada pelo Banco Central. Atualmente, o juro básico da economia, a taxa Selic, é de 13,75% ao ano, o mais alto desde novembro de 2006. O argumento adotado pelo BC, até agora, era condição indispensável para manter a inflação sob controle.

Os recentes sinais de retração na economia trouxeram de volta o clamor pela queda dos juros. Nesse novo cenário, muda o peso de poder entre o time do Banco Central, que defende a atual política de juros, e parcela da equipe do Ministério da Fazenda, que quer um juro mais baixo, permitindo maior crescimento econômico. Fonte do Ministério da Fazenda acredita que agora é momento ideal para baixar o juro e poupar o país dos reflexos da crise internacional. O detalhe é que a taxa Selic é definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, grupo que tem sua última reunião do ano nos dias 9 e 10 de dezembro, e que se mostra arredio quando o assunto é baixar a Selic.

A turma desenvolvimentista, que conta com aliados muito além do Ministério da Fazenda, prega juro mais baixo, alegando também que é a taxa alta o que causa desequilíbrio fiscal das contas públicas e baixo investimento em infra-estrutura. Taxas melhores de crescimento econômico são demandadas, inclusive, pelo setor político.

Um importante senador do governo admitiu que nada deve ser feito com a Selic enquanto não houver estabilidade na taxa de câmbio e garantia de comportamento estável da inflação, mesmo com os indícios que começam a surgir de retração econômica. Isso porque a alta do juro traz um efeito de elevação nos preços do varejo.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defensor da política de juros altos, conta, por sua vez, com uma equipe coesa e apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na última reunião do Copom, em outubro, houve unanimidade ao manter a Selic em 13,75%, contrariando apostas de mercado e pedidos do setor produtivo para que taxa fosse reduzida. Meirelles provou, com isso, que tinha um grupo unido. Além disso, o fantasma da inflação não desapareceu. Ontem, em Brasília, Meirelles disse que a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que o Brasil vai crescer só 3% em 2009 são muito modestas, e destacou as previsões do mercado de que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 5,2% este ano.

Meirelles está convicto de o Brasil vai crescer em 2009, ao contrário do que ocorrerá em outros países, como os Estados Unidos. Ou seja, haverá crescimento e, com ele, o desafio de manter a inflação sob controle. O governo tem o compromisso de evitar uma explosão da inflação e o BC é responsável por isso. Os cerca de cem agentes de mercado consultados pelo BC na última semana acreditam que a inflação estará sob controle neste e no próximo ano, mas são categóricos quanto ao preço desta estabilidade: apostam em Selic de nada menos que 13,5% só no fim de 2009.