Título: Novo foco na política monetária
Autor: Totinick, Ludmilla; Costa, Gabriel
Fonte: Jornal do Brasil, 05/12/2008, Tema do Dia, p. A2

A exemplo dos bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos, a autoridade monetária brasileira também deverá ser incorporada ao esforço da equipe econômica do governo para reaquecer a economia, que já começa a dar sinais de contágio pelo colapso financeiro global. A avaliação, compartilhada por especialistas ¿ e até por ex-presidentes do Banco Central do Brasil ¿, representaria o fim do compromisso exclusivo da instituição com a defesa da moeda, como defende a escola monetarista e o próprio presidente do BC, Henrique Meirelles. Na prática, isso significaria que, já nas próximas reuniões, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia reduzir a taxa básica de juros (Selic).

Na avaliação de economistas ouvidos pelo JB, como a própria inflação tende a perder força nos próximos meses ¿ como reflexo da desaceleração do consumo ¿, restaria como argumento à ala mais ortodoxa do BC apenas o cãmbio. Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 2,536, em alta de 2,46%, o que confirmou a tendência de alta da moeda americana desta semana. Em novembro, informou o BC, mais de US$ 7 bilhões saíram do país, no maior fluxo de saída de divisas dos últimos 10 anos. Uma redução dos juros já na próxima reunião (dias 9 e 10 de dezembro) poderia ampliar o fluxo cambial negativo.

O ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas ¿ que ocupou a presidência do Banco Central entre 1968 e 1974 ¿ não apenas espera que o Copom baixe os juros, como aposta até mesmo em uma forte redução, de pelo menos 0,5 ponto percentual já na próxima reunião.

¿ O governo está trabalhando para reduzir os gastos de custeio, e a taxa de juros é um dos fatores mais importantes para isso ¿ destaca Galvêas.

Para Paulo Di Blasi, professor de Finanças do Ibmec-RJ, a redução da Selic deverá entrar na pauta de discussão da reunião.

¿ Não sei se efetivamente vão reduzir, mas a questão deverá entrar na pauta de discussão ¿ prevê.

Divergências

O economista alerta para a inflação, que poderá representar empecilho para o corte imediato. O provável enfraquecimento da economia no próximo ano, ressalva, torna a decisão prudente.

Já o embaixador Marcílio Marques Moreira, um dos ex-ministros da Fazenda no governo Collor (1990-1992), prefere não arriscar um palpite sobre o movimento do Copom na próxima reunião. Embora alerte para a recente tendência de alta da inflação, Moreira admite espaço para a queda devido à probabilidade de desaceleração da atividade econômica mundial nos próximos meses. Isso abre espaço para uma redução dos juros por parte do BC.

O ex-ministro lembra, no entanto, que, por mais que o BC possa atuar de forma convergente com as decisões do governo, no cenário de crise a principal missão da instituição é zelar pela estabilidade da moeda.

¿ A decisão a ser tomada depende da percepção do BC. Poucos previam as quedas registradas na atividade industrial e no setor de automóveis.