O Globo, n.31993 , 11/03/2021. Sociedade, p.10

 

CoronaVac é eficaz contra variantes que circulam no Brasil

Ana Letícia Leão

Giuliana de Toledo

11/03/2021

 

 

Pesquisa publicada ontem concluiu que a nova linhagem britânica do vírus é de 30% a 100% mais fatal do que cepas anteriores

A vacina CoronaVac é eficaz contra as variantes do coronavírus em circulação no Brasil, anunciou ontem o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). A conclusão de que o imunizante oferece proteção contra novas cepas do vírus Sars-CoV-2 foi obtida a partir de uma pesquisa do Instituto Butantan em parceria como Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP).

Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, já havia dito nas últimas semanas que a vacina tinha semostrado eficaz contra as linhagens do Reino Unido e da África do Sul em testes conduzidos na China. “No caso da vacina do Butantan, nós já testamos lá na China essa vacina contra a variante inglesa e contra a variante sul-africana, com bons resultados”, disse ele em 17 de fevereiro. Agora, os resultados apresentados são de um estudo feito no Brasil.

Segundo Covas, a CoronaVac foi testada no Brasil com sucesso contra as variantes P1 (também conhecida como variante de Manaus) e P2.

— Estamos diante de uma vacina que é efetiva em proteção contra essas variantes que estão circulando nesse momento, pois produz anticorpos —disse ontem Covas em entrevista coletiva.

Segundo a assessoria de imprensa do Butantan, os estudos em questão são preliminares, e “os resultados completos serão divulgados posteriormente”.

Os testes, explicam, envolvem pessoas vacinadas coma CoronaVac, inclusive na fase 3 dos estudos da vacina no Brasil (seriam 35 as amostras dos voluntários, de acordo com anota ).

“São utilizados os soros das pessoas vacinadas (colhidos por meio de exame de sangue). As amostras são colocadas em um cultivo de células e, posteriormente, infectadas com as variantes. A neutralização consiste em testar se os anticorpos gerados em decorrência da vacina vão neutralizar, ou seja, combater o vírus nesse cultivo”, escrevem.

—A variante do Reino Unido, além de transmitir mais, é mais grave do ponto de vistada infecção (leia mais adiante) .A da África do Sul determinacarga vir alnas pessoas infectadas, ou seja, tem maior quantidade de vírus no seu organismo. Tem também transmissão aumentada e é resistente à neutralização de anticorpos, naturais ou produzidos por vacinas. E temos as variantes do Brasil, a que no momento predomina (P2), e a que tem uma mutação comum à variante da África do Sul. Mas mais importante é a de Manaus (P1), que concentra as mutações principais observadas na do Reino Unido e da África do Sul. Uma variante que preocupa e explica em parte esse momento grave da epidemia. Nesse momento existe uma variante mais agressiva —analisou Covas.

MORTALIDADE MAIS ALTA

Pesquisa liderada por um grupo da Universidade de Exeter e publicada ontem no periódico científico British

Medical Journal mostra que a variante descoberta no Reino Unido no final do ano passado é entre 30% e 100% mais fatal do que variantes anteriores.

O estudo comparou índices de mortalidade entre pessoas do Reino Unido infectadas com a variante B.1.1.7 com aquela de vítimas cujo contágio se deu por outras linhagens, e os autores disseram que a nova variante tem uma mortalidade “consideravelmente mais alta”.

A B.1.1.7 foi detectada no Reino Unido em setembro e, desde então, já foi encontrada em mais de 100 países, incluindo o Brasil.

Ela tem 23 mutações em seu código genético — um número relativamente alto de alterações —, e algumas delas a tornaram muito mais capaz de se disseminar. Cientistas britânicos dizem que ela é entre 40% e 70% mais transmissível do que variantes do coronavírus em circulação que antes eram predominantes.

No novo estudo, infecções da nova variante causaram 227 mortes em uma mostra de 54.906 pacientes com Covid-19 —em um número igual de pacientes infectados com outras variantes foram 141 óbitos.

—Além de sua capacidade de se disseminar rapidamente, isto torna a B.1.1.7 uma ameaça que deveria ser levada a sério — disse Robert Challen, pesquisador da Universidade de Exeter e um dos líderes da pesquisa.