O Globo, n.31993 , 11/03/2021. Economia, p.16

 

Banco Mundial: América Latina vive tragédia na saúde e no PIB

Henrique Gomes Batista

11/03/2021

 

 

David Malpass alerta que crescimento em 2021 não com pensará tombo de 2020

A América Latina vive “desafios tremendos” com a pandemia, afirmou o presidente do Banco Mundial, David Malpass, em entrevista coletiva na terça-feira. A região, ressaltou, é a que mais sofre com a crise no mundo, tanto na questão de saúde como na economia:

— A América Latina tem apenas 8% da população global, mas tem 20% das infecções em todo o mundo e cerca de 30% das mortes por Covid-19. É uma tragédia. A questão do PIB também é trágica, com uma queda de cerca de 7% em 2020. Será a pior entre todas as regiões do mundo e a pior recessão desde 1901, e parece que o crescimento em 2021 não será suficiente para compensar essa queda.

Malpass afirmou na entrevista, na qual O GLOBO foi o único veículo do Brasil, que a falta de vacinas na região é preocupante:

— Segundo algumas estimativas, a América Latina terá apenas 3% das vacinas disponíveis, o que não é suficiente para realmente resolver o problema — disse ele, lembrando que o Banco Mundial tem ajudado os países latinos para que tenham recursos para comprar vacinas.

ALERTA PARA ENDIVIDAMENTO

Apesar de defender que os governos adotem programas de auxílio na pandemia, Malpass disse que cada país precisa respeitar sua situação fiscal. Ele ressaltou que gastos além da capacidade orçamentária podem comprometer a recuperação econômica. O risco, segundo o presidente do Banco Mundial, é os países ficarem presos a “dívidas difíceis de superar”:

—Se os países estão pagando seus credores, isso esgota os recursos disponíveis. E isso também é importante do ponto de vista do clima, dos recursos necessários para fazer melhorias ou avançar na adaptação e mitigação.

Malpass observou que, a curto prazo, os déficits fiscais podem ajudar, mas não são a resposta a longo prazo. E ressaltou que os governos têm de dar atenção à eficácia dos gastos no combate aos efeitos da pandemia.

O presidente do Banco Mundial também mostrou preocupação com o aumento da pobreza na América Latina devido à pandemia. Segundo ele, mais de cem milhões de pessoas passaram a viver abaixo da linha da pobreza no mundo, na primeira reversão do movimento de redução da pobreza em duas décadas.

— Estamos seriamente preocupados com isso. Esta é uma reversão no processo de desenvolvimento do mundo, e requer ação concertada de organizações internacionais, de governos em termos de seus próprios programas de ajuda —disse Malpass.

Ele ressaltou a importância do setor privado para criar empregos e combater a pobreza:

— Os melhores programas de criação de empregos, sabemos, vêm de pequenas empresas que iniciam e contratam trabalhadores que podem não ser contratados por grandes empresas.

Ele disse ainda que o Banco Mundial espera destinar US$ 10 bilhões para assistência social na América Latina neste momento de restrição da atividade econômica devido à pandemia. O Brasil deve receber US$ 1 bilhão para programas de apoio à renda.