O Globo, n.31994 , 12/03/2021. Sociedade, p.10

 

Guerra aberta

Ana Letícia Leão

Daniel Gullino

Gustavo Schmitt

Julia Lindner

Paula Ferreira

Paulo Cappelli

12/03/2021

 

 

Bolsonaro volta a atacar governadores: ''teremos problemas sérios pela frente”

O presidente Bolsonaro reagiu com truculência às medidas de governadores para conter o vírus. Co mare dede saúde em colapso em quase todo o país, ele erroneamente comparou otoque de recolher decretado pelo governador Iban eis Rocha (DF) a “estado de sítio” e disse que João Doria (SP )“destrói empregos” com medidas restritivas. Em live, Bol sonar o repetiu afras e“comoé fácil impor uma ditadura no Brasil”, já dita antes num vídeo, e completou :“Estamos vendo municípios com guarda municipal e cassetete mantendo todo mundo dentro de casa. Imagina umas Forças Armadas com fuzil”. O país registrou de novo mais de duas mil mortes pela Cov id.

Durou um dia a mudança de atitude do presidente Jair Bolsonaro em relação ao combate à Covid-19. Após aparecer publicamente de máscara e sancionar projetos que facilitam a compra de vacinas, na quarta-feira, Bolsonaro fez ontem ameaças e subiu o tom nas críticas às restrições impostas por governadores e prefeitos para conter o vírus. Segundo o presidente, tais medidas demonstrariam “como é fácil impor uma ditadura” no Brasil.

— Tem decisões que são absurdas. Busco o diálogo com alguns, digo que o caldo vai entornar. Vai entornar por parte de quem? Estou antevendo um problema sério no Brasil. Não quero falar que problemas são esses porque não que roque digam que estou estimulando a violência, mas teremos problemas sérios pela frente — disse o presidente, numa transmissão ao vivo em que afirmou que “o lockdown é mais danoso que o vírus”.

—Vocês lembram daquele vídeo nosso que vazou, que o ministro Celso de Mello falou que tinha que colocar tudo para fora, porque ali estava a prova de que eu havia tentado interferir na PF. Primeiro, que não havia interferência alguma. E em dado momento eu falei “como é fácil impor uma ditadura no Brasil ”. Vou repetir: como é fáci limpo ruma ditadura. Estamos vendo municípios com guarda municipal e cassetete mantendo todo mundo dentro de casa. Imagina uma Forças Armadas, com fuzil—disse.

Ontem, o Brasil voltou a registrar, pelo segundo dia consecutivo, mais de duas mil mortes em 24 horas pela Covid-19: foram 2.207 novas vítimas, segundo o boletim do consórcio da imprensa. O total de mortos agora é 273.124.

Mais cedo, em reunião parlamentares, o presidente reclamou doto quede recolher no Distrito Federal, afirmou que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), “destrói empregos” ao reduzir a circulação de pessoas e se posicionou contra a interrupção de jogos de futebol.

No encontro com afrente parlamentar da Micro e Pequena Empresa, o presidente afirmou que o Brasil está há “praticamente um ano” em lockdown. O termo se refere ao bloqueio total da circulação em uma região, um conjunto de medidas que chegou a ser adotado em países da Europa, mas que nunca foi implementado em larga escala e nem por tanto tempo no Brasil.

Um dos alvos das críticas de Bolsonaro foi Doria. Ontem, o chefe do Executivo paulista anunciou a entrada do estado em uma fase emergencial para conter o avanço da Covid-19. Além do toque de recolher das 20h às 5h, a decisão prevê o fechamento de praias e parques, a proibição de cultos religiosos, atividades esportivas coletivas e o serviço de retirada de comidas em bares e restaurantes. Em todo o estado, 53 cidades já têm 100% de ocupação em UTIs —na segunda, eram 31. Com duração prevista de 15 dias, as medidas anunciadas por Doria começarão a valer na próxima segunda-feira.

Outra crítica do presidente foi direcionada ao governo do Distrito Federal. Com taxa de ocupação de UTIs nas redes pública e privada na casa dos 96%, o governador Ibaneis Rocha (MDB) determinou, desde segunda-feira, toque de recolher que proíbe a circulação de pessoas entre 22h e 5h, sob pena de multa de R$ 2 mil.

— Aqui no DF, toma-se medida, por decreto, de estado de sítio. De 22h às 6h (na verdade, a medida vale até 5h), ninguém pode andar. Só eu poderia tomar uma medida dessas, e assim mesmo, ouvindo o Congresso Nacional —questionou Bolsonaro, equiparando erroneamente a decretação do estado de sítio ao toque de recolher adotado pelo governo do DF para conter o vírus.

Para o presidente, as restrições atacam a economia:

— Nós aqui buscamos salvar empregos, na ponta da linha, um ou outro (governador), como o de São Paulo, vai para destruição. Até quando nossa economia vai resistir? Se colapsar, vai ser uma desgraça —questionou.

O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que tem coordenado discussões sobre vacina no Fórum dos Governadores, disse que o Brasil não pode ficar dividido entre “o lado dos governadores e prefeitos e o lado do presidente da República”:

— Éa vacina quem salva as vidas e a economia e os empregos, mas até lá tem uma travessia, e (a adoção de) medidas preventivas de âmbito nacional é o que pode evitar mortes.

DORIA X CASTRO

A falta dearticulação do governo federal faz com que cada governado radote uma medida diferente para lidar coma crise e tem gerado conflitos entre os chefes dos estados. Ontem, Doria cobrou o governador do Rio, Cláudio Castro (PSC), por não ter assinado uma carta com endosso de 22 governadores em defesa da expansão da vacinação e do apoio a medidas contra o vírus.

— Lamento que no Rio de Janeiro, onde vivi par teda min havida e conhecia minha esposa, ao invés deter medidas que restrinjam( e comisso protejam a sua população ), façam exatamente o caminho oposto —disse o tucano.