O Globo, n.31994 , 12/03/2021. Economia, p.21

 

Guedes: redução de jornada será "seguro-emprego"

Manoel Ventura

Geralda Doca

Gabriel Shinohara

12/03/2021

 

 

Ideia do governo é que trabalhadores que tiverem corte de salário recebam antecipação do seguro-desemprego. Medida deve ser anunciada nos próximos dias. Segundo ministro, economia “está decolando" e crescimento pode superar 3,5% este ano

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que o novo programa que vai permitir suspensão de contrato e redução de salário e jornada — nos moldes da medida provisória (MP) 936, editada ano passado — funcionará como um “seguro-emprego”. A ideia do governo é que trabalhadores que tiverem corte de salário recebam parte do vencimento como antecipação do seguro-desemprego.

—Nós temos o seguro-desemprego. A pessoa é mandada embora, e o governo dá R$ 1 mil como seguro-desemprego. Por que não dar R$ 500 para ter um seguroemprego? Em vez de esperar alguém ser demitido e dar R$ 1 mil, vamos evitar a demissão pagando os R$ 500 antes. Em vez de uma cobertura de quatro, cinco meses, como é hoje o seguro-desemprego, vamos fazer uma cobertura de 11, 12 meses, pela metade do custo — disse Guedes, durante evento com parlamentares ligados a pequenas empresas.

Segundo técnicos, a nova medida vai autorizar suspensão de contrato e redução de jornada por um prazo máximo de quatro meses. Assim como no ano passado, as empresas que aderirem terão que assegurar estabilidade dos empregados por igual período a contar do término do acordo.

AJUDA MENOR NA DEMISSÃO

A ideia do governo é antecipar o seguro-desemprego e pagar menos parcelas do benefício caso o trabalhador que fez o acordo seja demitido no futuro.

A conta do ministro de cobertura por 11 meses considera um cenário no qual um trabalhador que hoje tem direito a cinco parcelas do seguro-desemprego passasse afazer jus ao benefício por apenas três meses após o acordo. Dessa forma, o empregado ficaria quatro meses amparado no programa de redução de jornada, mais quatro meses estável e ainda receberia o seguro-desemprego por três meses, totalizando 11 meses de proteção.

Guedes não disse quando o governo vai anunciar o programa, que, em 2020, atingiu quase dez milhões de trabalhadores com mais de 20 milhões de acordos fechados, a um custo de R$ 33 bilhões.

No ano passado, a medida provisória( MP )936 permitiu a redução de salário e jornada em 70%,50% e 25%, além da suspensão do contrato de trabalho. O governo pagava parte desse salário com base no valor do seguro-desemprego a que o trabalhador teria direito. Agora, a ideia do governo é antecipar o seguro-desemprego.

Para isso, o governo deve usar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Dos R$ 78,7 bilhões de orçamento do FAT para 2021, R$ 40,9 bilhões são para o seguro-desemprego.

A previsão era que o novo programa seguiria ainda ontem para o Palácio do Planalto e seria incorporado à MP 927, editada em março de 2020 e que permite acordos individuais para antecipar férias, feriados, banco de horas e suspensão do recolhimento do FGTS por quatro meses (março, abril, maio e junho). Os valores poderão ser parcelados em até seis meses após a pausa.

ARRECADAÇÃO RECORDE

O secretário especial de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, disse que a nova edição será lançada nos próximos dias:

—Dentro dos próximos dias, se tudo encaminhar como esperamos, lançaremos o novo BEm. Isso é fundamental para todos os empresários.

Para indicar que o Brasil está crescendo, Guedes antecipou o resultado da arrecadação de impostos de fevereiro, que seria o maior para o mês da história. A arrecadação serve como um dos termômetros para medir a atividade econômica. Com mais atividade, o governo arrecada mais impostos.

— A arrecadação em fevereiro deste ano é recorde histórico para fevereiro. Janeiro deste ano teria sido maior ainda do que janeiro do ano passado. Janeiro e fevereiro deste ano vão ser maiores do que janeiro e fevereiro do ano passado —afirmou o ministro.

Depois de citar os resultados da arrecadação, o ministro disse que a economia “está decolando” e que o crescimento pode superar 3,5% este ano. A atual previsão do mercado, como mostra o boletim Focus, é de 3,26%.

— A economia está de novo decolando. A arrecadação no ano passado estava 25% acima do previsto ao final de fevereiro, o que indicava um crescimento potencial acima de 2%, 2,5%. Este ano temos uma taxa praticamente garantida de 3%, 3,5%, e pode ser muito mais, dependendo exatamente da nossa capacidade de juntos formulamos as soluções — afirmou o ministro.