Título: Novos rumos entram em sala
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/12/2008, Opinião, p. A8

Em entrevista publicada ontem no Jornal do Brasil, a futura secretária de Educação do Rio, Cláudia Costin, mostrou aos cariocas por que é possível voltar a vislumbrar um futuro auspicioso para os estudantes da rede pública municipal. A firmeza de seus propósitos, a clareza de suas propostas e a lisura de suas críticas exibiram ao leitor contornos nítidos de que os alunos das escolas do Rio ficarão em mãos seguras a partir de 2009. Mérito para ela e para o prefeito eleito Eduardo Paes.

Economista de formação, Cláudia fez críticas com conhecimento de causa, delineou uma correta radiografia da educação do município e, com precisão, separou o joio do trigo ¿ como boa administradora que é, promete preservar as boas práticas e corrigir os rumos do que vem dando errado, combinando tais eixos com o caminho fundamental da inovação.

Uma das mudanças em formação no horizonte é a aprovação automática, decretada pelo prefeito Cesar Maia e amplamente criticada por profissionais respeitáveis, do Ensino Fundamental ao Superior. Ressalte-se que não são poucos os professores que, assombrados com a idéia da aprovação automática, qualificam a prática como um genocídio intelectual. Extremos à parte, a aprovação automática pode desempenhar, como afirmou a futura secretária, um importante papel ao evitar a evasão escolar no início do ciclo. Nos primeiros contatos dos alunos, na quase totalidade, oriundos das classes menos favorecidas, a repetência pode servir como estímulo para que pais retirem os filhos da escola. Não há razão compreensível, no entanto, para justificar seu amplo uso.

Cláudia apresentou um cenário muito rico de observações e soluções neste ponto. A primeira importante mudança está na postura em relação aos aspectos socioeconômicos dos alunos da rede pública. Como foi muito bem observado pela economista, é preciso, antes de repreender a criança, investigar como é a sua vida domiciliar.

A grande virada, nesta questão, reside no projeto Escola da Paz, aplicável principalmente às unidades localizadas em áreas de risco, onde a violência e a facilidade do tráfico afastam as crianças dos bancos escolares. "A escola tem de ser atraente, gostosa, com um gerenciamento menos tecnocrático", defende a futura secretária, que emenda uma perfeita defesa de que postura o educador deve assumir, muito além do quadro-negro. "É preciso conhecer essas famílias, ter assistentes sociais, envolver outras esferas da administração, como a saúde e a segurança. Tem que preparar professores e diretores para uma ação diferenciada". Sublinhe-se o último ponto: o professor é tão vítima de uma engrenagem mal concebida quanto o público que dela depende. Capacitação e melhores salários configuram ações imprescindíveis da próxima administração.

Além de renovar as expectativas na retomada do ensino público de qualidade na cidade, a entrevista de Cláudia Costin inaugurou a seção especial que o Jornal do Brasil passa a publicar regularmente, sempre às segundas-feiras, dedicada à educação. Os rumos da educação vai, em reportagens e entrevistas, promover diagnósticos, desenhar cenários futuros e presentes, expor boas lições aprendidas com as práticas conduzidas no Brasil, em geral, e no Rio, em particular. Consumará, portanto, uma convicção do JB: a de que analisar os rumos a educação significa, antes de tudo, conceber o futuro que desejamos.